Árvore que resistiu ao 11 de Setembro simboliza resiliência de Nova York
Ela foi o último ser vivo retirado da pilha de destroços. E por pouco: quando os operários a encontraram, sob toneladas de escombros três semanas após o atentado que em 11 de setembro de 2001 atingiu as Torres Gêmeas, não era mais do que um cotoco de pereira-de-jardim.
Estava reduzida a um quarto do que media antes. Oito metros de tronco carbonizado, nenhuma folhinha para contar a história. Levaram-na para um abrigo no distrito do Bronx, ainda coberta com poeira cinza tóxica.
Gabriel Cabral/Folhapress | ||
Guia fala sobre a única árvore que sobreviveu aos atentados de 11 de Setembro de 2001 em NY |
"Cuidamos dela por nove anos, mas nunca achamos que causaria tanto barulho", diz à Folha o horticultor Richie Cabo, um dos responsáveis por cuidar da Árvore Sobrevivente.
Foi assim batizada por ser a única planta, entre centenas de exemplares que esverdeavam o complexo de sete prédios do World Trade Center, a não tombar no ataque.
Cabo, um tipo meio hippie que tem foto com um totem do Elvis Presley em redes sociais, conta que aplicou à pereira a mesma lenda que "humanos" usam para falar do roqueiro: sua protegida não morreu, apenas precisava voltar para casa.
Deu-lhe fertilizantes e estimulantes para as raízes, fincadas no jardim do World Trade Center ainda nos anos 1970. A árvore reagiu bem.
Em 2010, contudo, quase caiu uma segunda vez.
"Não só superou o 11/9, mas foi derrubada por uma tempestade", afirma à reportagem Scott Eliott, que dirige "The Trees" (as árvores), documentário sobre a nova flora do espaço. "A árvore é uma nova-iorquina até o talo: colocam-na para baixo, mas ela não fica no chão."
A proeminente bióloga Jane Goodall, que já escreveu sobre plantas que superaram as bombas atômicas no Japão, falou sobre a sobrevivente americana em "Sementes da Esperança".
"Todo ano, suas flores brancas davam um toque de primavera no mundo de concreto", escreve. "Ela não é uma visão espetacular —não até você perceber por tudo o que passou e entender o milagre de sua sobrevivência."
No fim de 2010, a árvore foi replantada no World Trade Center, já com dez metros de altura. Hoje, é protegida por uma cerca, sob o olhar atento de seguranças, e coprotagonista de selfies de turistas sorridentes.
Michael Bloomberg, que era prefeito de Nova York então, disse que ela representava a "resiliência da cidade".
Quando o Osama Bin Laden foi morto, em 2011, o presidente Barack Obama colocou uma coroa de flores azuis, vermelhas e brancas sob seus galhos.
Não faltou candidato para tirar uma casquinha da Árvore Sobrevivente.
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