Assinatura de acordo de paz vira reunião informal de líderes
"A paz na Colômbia é a melhor notícia para a Pátria Grande, para a América Latina, nas últimas décadas", disse um apressado Rafael Correa, presidente do Equador e um dos últimos líderes a entrar na Igreja San Pedro Claver, em Cartagena, ao mebio-dia (hora local) desta segunda-feira (26), para a missa que iniciou as atividades prévias à assinatura do acordo entre o governo e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Sorridente, ele justificou o atraso aos jornalistas porque "não conhecia Cartagena e estava olhando a cidade, que é tão linda".
A entrada do edifício histórico da cidade colonial transformou-se, por alguns momentos, num ponto de encontro informal entre presidentes latino-americanos, todos vestidos de branco, como recomendava o protocolo.
O calor era intenso (quase 40ºC), e mesmo com a predominância das "guayaberas" e roupas de linho leves, os mandatários não escondiam estar sofrendo com o calor.
Ali se cumprimentaram, cordialmente, os presidentes do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, o rei emérito da Espanha, Juan Carlos, o presidente do Panamá, Juan Carlos Varela, e a do Chile, Michelle Bachelet, além do secretário de Estado dos EUA, John Kerry.
O presidente Michel Temer foi representado pelo chanceler José Serra.
Luis Acosta/AFP | ||
Líderes da região como Maduro, Correa, Bachelet, Raúl Castro e Peña Nieto participam da cerimônia |
"Sentimos que começa um novo momento na América Latina, e a paz na Colômbia é parte desse novo momento", disse à Folha o recém-eleito presidente peruano.
Também se juntaram a eles o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, o atual, Ban Ki-moon, e o ex-presidente mexicano Ernesto Zedillo.
O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, cumprimentou a todos, mas deu especial atenção ao ex-mandatário Belisario Betancur, 93.
Presidente entre 1982 e 1986, Betancur fez as primeiras tentativas de negociar um acordo de paz com a guerrilha, além de ter enfrentado anos duros da Colômbia na época dos cartéis.
A região da Igreja, uma das mais movimentadas do centro histórico, estava toda cercada, e só credenciados podiam aproximar-se, mas havia gente espremendo-se no alto das muralhas ou nas sacadas das casas mais distantes para ver os convidados.
AUSÊNCIA DO PAPA
A missa foi conduzida pelo cardeal Pietro Parolin, representante do papa Francisco no evento. Apesar de ter dado apoio ao processo de paz desde o princípio, o papa preferiu se afastar desses momentos finais pré-plebiscito, para evitar intrometer-se em questões políticas.
A recusa de vir a Cartagena veio justamente depois de ter dito "não" também a participar de uma comissão para escolher os magistrados que formarão os tribunais especiais da paz, caso o acordo seja aprovado.
"A Colômbia deve aliviar a dor de tantos de seus habitantes para construir um futuro melhor", disse Parolin durante o sermão.
EXÉRCITO
Pela manhã, Santos iniciou o dia fazendo uma homenagem aos militares. Entre seus críticos estão os que consideram que, ao assinar a paz, ele estaria minimizando o papel das Forças Armadas nas últimas cinco décadas.
Por isso, durante seu discurso, o presidente quis dar uma impressão oposta e reforçou que o acordo não se trata de uma desistência ou de uma derrota.
"Isso que estamos assinando hoje é a sua vitória, a vitória das nossas forças", declarou o presidente. "Gostaria de pessoalmente agradecer cada uma das Forças e reconhecer aqui o papel que tiveram". Depois, mandatário e 75 oficiais tomaram um café da manhã juntos.
Em outras cidades da Colômbia, também houve festa. Em Bogotá, na Plaza Bolívar, a principal da região central, um palco foi armado para bandas de rock e cantores populares.
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