Em primeiro debate, Trump ataca menos e é provocado por Hillary
"Pode ser o maior show político na Terra", profetizava, horas antes, a CNN. "Maior. Debate. De Todos", apostava o site "Politico".
Cercado de expectativas superlativas, o primeiro cara a cara entre o republicano Donald Trump e a democrata Hillary Clinton, na segunda (26), não chegou a tanto, mas teve seus momentos inspirados.
Brian Snyder/Reuters | ||
Donald Trump e Hillary Clinton cumprimentam-se ao fim do primeiro debate, na Universidade Hofstra |
Já nos primeiros dos 90 minutos ininterruptos de confronto, ficou claro que Hillary cumpriria à risca seu plano de enervar o adversário. A ideia central: se Trump perdesse a cabeça, perderia junto eleitores ressabiados com seu temperamento.
Na mídia, ela saiu como vencedora —num grupo de controle da CNN, 62% dos telespectadores indicaram que Hillary venceu o embate, contra 27% que consideraram que Trump foi melhor.
Hillary provocou. Sorria. Só o chamava de Donald, enquanto Trump se referia à ex-chanceler como "secretária Clinton".
Tratou-o como o "playboy" que começou seu negócio com US$ 14 milhões emprestados do pai (US$ 1 milhão, na verdade) e questionou por que se negava a divulgar sua declaração de Imposto de Renda. "Talvez ele não seja tão rico quanto diz", afirmou Hillary.
Ela seguiu a tese de que Trump ajudaria bilionários como ele, numa economia que chamou de "trumped-up trickle down", uma espécie de redistribuição de riqueza às avessas.
Também o retratou como um fracasso empresarial. "Conheci lavadores de louça, pintores, instaladores de mármore que não foram pagos [por você]."
Antes do duelo, uma das diretoras de campanha republicana comparou seu candidato ao Pelé do beisebol: "Ele é tipo o Babe Ruth dos debates".
Mas esse Trump, que dominou o show nos 11 embates com outros pré-candidatos nas prévias republicanas, teve dificuldade em rebater as bolas arremessadas pela rival.
Ficou na defensiva a maior parte do tempo. Teve seus momentos destemperados -interrompia Hillary e o moderador a todo momento-, mas não aderiu a baixarias comuns num passado recente.
'TÍPICA POLÍTICA'
Sua tática, a princípio, parecia funcionar: pintá-la como a "típica política", que "fala muito e age pouco" em três décadas na arena política.
Associou a sangria de empregos no país ao Nafta, tratado comercial entre EUA, Canadá e México sancionado pelo ex-presidente Bill Clinton.
Disse que o general Douglas MacArthur (1880-1964), lendário nos EUA, "não gostaria muito" de como a democrata superexpõe seu plano para debelar o Estado Islâmico. "Ele diz que tem um plano secreto para derrotá-los, mas o segredo é que ele não tem nenhum plano", ela revidou.
O moderador, o âncora da NBC Lester Holt, foi mais duro com Trump. Exemplo: pressionou-o sobre ter propagado, por cinco anos, a teoria de que Barack Obama, filho de queniano e primeiro negro na Casa Branca, não era americano.
Discriminação racial ocupou vários minutos, com os debatedores tentando colar um no outro a pecha de racista.
Ele lembrou que, em 1996, Hillary usou o termo "superpredadores" para explicar o aumento da criminalidade, o que pegou mal na comunidade negra. Ela resgatou um processo, nos anos 1970, contra a recusa de Trump em alugar apartamentos para negros.
Nos minutos derradeiros, o moderador questionou o que ele quis dizer no passado sobre "a primeira candidata mulher" à Casa Branca, por um grande partido, não ter um "look presidencial".
Sem mencionar sua recente pneumonia, o republicano disse que lhe faltava "vigor". "Este é um homem que chama as mulheres de canhões" e gosta de "concursos de beleza", devolveu Hillary ao ex-dono do Miss Universo.
Checadores de dados deram dor de cabeça sobretudo para Trump. O "PolitiFact" desbaratou várias de suas falas, como a de que ele sempre foi contra a guerra do Iraque (em 2002, ainda que sem empolgação, a defendeu).
A internet brincou que a democrata falhou no teste ao dizer para o rival: "Donald, é bom estar aqui com você".
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