Após escândalo sexista, Trump diz que há 'zero chance' de sair da disputa
Spencer Platt/AFP | ||
Trump saúda seus apoiadores depois de sair da Trump Tower, em Nova York |
Na véspera do segundo debate presidencial com Hillary Clinton e a um mês da eleição, Donald Trump teve de ir a público neste sábado (8) para dizer que não desistirá da disputa, depois que sua candidatura pareceu entrar em queda livre com a revelação de comentários sexistas feitos pelo bilionário em 2005.
"Nunca desistiria. Nunca desisti de nada na vida", disse Trump neste sábado ao jornal "The Washington Post", que na véspera divulgou a gravação que foi o estopim da crise. Em um canal oficial, ele afirmou: "Nunca vou desapontar meus apoiadores."
No vídeo de 2005, ele faz comentários obscenos sobre mulheres, dizendo que podia beijar, agarrar e fazer "qualquer coisa" com elas. "Quando você é uma estrela, elas deixam. Pegue-as pela xoxota", disse Trump nos bastidores de um programa de TV.
Pouco antes de dizer que não sairia da disputa, o bilionário tentou apagar o incêndio provocado pela revelação, num vídeo de 90 segundos em que pediu desculpas, mas também partiu para o ataque contra Hillary.
"Qualquer um que me conhece sabe que essas palavras não refletem quem eu sou. Eu disse: errei e peço desculpas", disse Trump, prometendo "ser um homem melhor amanhã".
O esforço foi considerado pela imprensa americana um pedido de desculpas pela metade, já que Trump chama a revelação de "nada mais que uma distração" dos problemas do país.
Ele ainda acusou o marido da adversária, o ex-presidente Bill Clinton, de ter abusado de mulheres, e Hillary de "ameaçar intimidar e atacar as vitimas" do marido.
O novo escândalo provocou uma onda de repúdio entre vários nomes do Partido Republicano, que incluiu até o candidato a vice de Trump, Mike Pence (leia mais na página A20).
As declarações inflam ainda mais a imagem de cafajeste e sexista de Trump –enquanto ele precisa ampliar o voto feminino– e o mantêm na defensiva para o segundo cara a cara com Hillary.
No vídeo em que pediu desculpas, porém, Trump finaliza dizendo que falará mais sobre os "abusos" de Bill e Hillary Clinton em breve e convidou o público a assistir ao debate, indicando que partirá para o ataque.
O segundo encontro cara a cara entre os dois será em Saint Louis, Estado de Missouri (meio-oeste), neste domingo, às 22h de Brasília. Terá um formato bem diferente do primeiro, o "town hall", que remete à época colonial nos EUA, em que decisões eram tomadas em assembleias comunitárias.
Os candidatos ficam em pé, falando diretamente com a plateia. Perguntas serão feitas pelo público presente e pelos mediadores.
Isso dificulta uma posição mais ofensiva de Donald Trump, disse à Folha Alan Schroeder, professor de jornalismo da Universidade Northeastern, em Boston, e também autor do recém-lançado "Debates Presidenciais: um negócio arriscado na rota da campanha".
Embora a história mostre que os debates não têm peso significativo nas urnas, ele acredita que desta vez poderá ser diferente. "Trump precisa expandir sua base, e debates servem para isso. Hillary tem a chance de fortalecer seu apoio de modo a tornar sua eleição inevitável."
Pulando de um escândalo para outro e em queda nas pesquisas –depois de estar empatado com Hillary no primeiro debate, vê a rival 4,7 pontos percentuais à frente na média nacional de pesquisas–, Trump depende de um desempenho "sensacional" para salvar sua candidatura, disse o âncora Chris Wallace, da rede de TV MSNBC.
"O sujeito já estava na beira do abismo. Vai ter que ser Houdini para levar a melhor no debate", em referência ao famoso mágico.
NA TV
Debate dos candidatos à Presidência dos Estados Unidos:
Hoje, 22h, BandNews, CNN e Bloomberg
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