Vítimas do furacão no Haiti perdem trabalho e abrigo temporário
Quando o furacão Matthew passou pela pequena cidade de Port-Salut, no início da semana passada, e atingiu barracos à beira-mar, Silaire Julianise, 27, correu para se abrigar num dos únicos prédios de alvenaria de que lembrou, uma escola católica.
Muitos tiveram a mesma ideia, e o local hoje funciona como campo de desabrigados. Apesar da tragédia recente, seus ocupantes foram informados que terão que sair do prédio até esta sexta (14), com a retomada das aulas, e ainda não sabem para onde ir.
Danilo Verpa/Folhapress | ||
Moradores de Port-Salut reconstroem barraco destruído pela passagem do furacão Matthew |
"A noite do furacão foi muito difícil. Fiquei dentro de casa em pé, segurando meus filhos enquanto ele passava. Esperei duas horas até diminuir um pouco e corri até a escola", lembra Julianise. Quando voltou, a casa estava irreconhecível –tudo havia sido levado pelo mar ou pelo vento.
Nesta quinta (13), quando a Folha visitou a região, o chão estava coberto de folhas de bananeiras e palhas que serviam como teto das casas. Sobraram apenas uns poucos blocos de concreto empilhados –destroços das paredes– e colchões secando.
Perto dali, a escola que virou abrigo fica em um prédio de estilo colonial. Tem dois andares e cerca de 20 salas de aula, onde famílias se espremem com o que sobrou de seus pertences. Em um gramado em frente, acampam os que não chegaram a tempo de pegar um quarto.
Léne Marie Solange, 46, é uma das que não sabem para onde ir. "Talvez fique na rua um tempo até conseguir ajuda", diz, dando de ombros, em tom quase resignado.
Editoria de arte/Folhapress | ||
A casa onde morava, vizinha da de Julianise, foi varrida pelo mar. "A chuva só aumentava, e o nível do mar subiu até invadir nossa casa."
"Sabíamos que o furacão estava vindo, mas tanta destruição foi uma surpresa. A noite foi terrível: havia muitas pessoas feridas e não tínhamos comunicação nem conseguíamos levá-las para o hospital", diz o padre Ethener Cheuy, 35, responsável pela estrutura da igreja e pelo prazo para que os desabrigados deixem o local. "As crianças estão sem aulas desde o furacão, e é preciso que as atividades voltem."
Como em boa parte do Haiti, em Port-Salut (30 mil habitantes) muitos sobrevivem da agricultura. Com as plantações destruídas e sem dinheiro, os desabrigados não sabem por onde recomeçar.
Também faltam empregos e ferramentas de trabalho. O pescador Desjardin Bérnard, 24, conta que todo seu equipamento foi levado pelo mar. "Não tenho dinheiro, não posso planejar nada".
Nesta sexta (14), o governo deve decidir quando serão realizadas as eleições presidenciais do país, que vêm sendo adiadas desde janeiro.
A última data prevista era no último domingo (9), mas o furacão, que já matou ao menos mil pessoas, mudou novamente os planos.
"Não conheço nenhum dos [27] candidatos", diz a dona de casa Lundi Daphnée, 21. "Que diferença faz se nem o prefeito de Port-Salut veio nos visitar até agora? Tanto faz quem for o presidente."
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