Paquistão proíbe programas da Índia, e Bollywood vira campo de batalha
A Índia e o Paquistão, antigos inimigos que possuem arsenais nucleares, já lutaram por fronteiras, mataram seus respectivos soldados e travaram três guerras desde a criação dos países, há sete décadas.
Agora sua batalha chegou às telas de cinema.
Na quarta-feira (19), o Paquistão impôs uma proibição aos programas indianos em suas redes de televisão e estações de rádio, um dia após um dos principais diretores de cinema da Índia ter prometido não contratar atores paquistaneses em reação à declaração de um grande grupo cinematográfico indiano de que não passaria filmes com elencos paquistaneses.
Faisal Mahmood - 20.out.2016/Reuters | ||
Cartazes de filmes de Bollywood em loja de DVDs em Rawalpindi, no Paquistão |
As medidas ocorrem em meio à deterioração das relações entre os dois países, depois de um ataque em setembro a uma base do Exército indiano por militantes que, segundo a Índia, vieram do Paquistão.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, reagiu aos ataques autorizando operações militares contra o Paquistão e tentou isolar o país diplomaticamente retirando-se de uma conferência regional. Modi também usou uma reunião de cúpula em Nova Déli que incluiu chefes de Estado da Rússia, China e Brasil, no último fim de semana, como plataforma para atacar o governo paquistanês.
Os músicos paquistaneses há muito são um trunfo em Bollywood, cujos filmes e canções também são muito populares no Paquistão. E atores paquistaneses recentemente entraram em Bollywood devido à crescente popularidade na Índia das séries de televisão feitas no Paquistão. Mas esses laços culturais estão sendo cortados.
A proibição dos programas indianos no Paquistão entra em vigor nesta sexta-feira (21). O governo agiu seguindo uma recomendação da Autoridade Reguladora de Mídia Eletrônica do Paquistão, e autoridades locais disseram que foi uma resposta às crescentes limitações aos filmes e atores paquistaneses na Índia. A licença de qualquer rede de TV ou estação de rádio que não acate a ordem será suspensa, segundo a autoridade reguladora.
Os ataques aéreos ao Paquistão, realizados dez dias depois que 19 soldados indianos foram mortos em uma base do Exército na Caxemira, desencadearam em toda a Índia um fervor nacionalista que foi instigado pela mídia local.
O superstar indiano Salman Khan, que se manifestou contra a proibição dos atores paquistaneses, foi denunciado com veemência por um dos principais apresentadores de programas de entrevistas da Índia, Arnab Goswami.
18.jul.2015/AFP Photo | ||
Foto de arquivo do ator indiano Salman Khan, em Mumbai |
O ator Om Puri, que apareceu em filmes de Bollywood, Hollywood e independentes, também foi atacado durante um debate na televisão quando disse que era contra a proibição. A situação esquentou quando Puri, pressionado pelo apresentador a falar sobre um soldado morto, retrucou: "Quem mandou ele entrar no Exército?" Mais tarde o ator pediu desculpas.
Os laços esportivos também foram cortados, com o Paquistão proibido de jogar na Índia na Copa do Mundo de kabaddi, um tipo de luta popular no subcontinente.
A disputa cultural começou em 28 de setembro, quando a Associação de Produtores de Cinema da Índia votou por unanimidade a proibição de artistas paquistaneses em Bollywood.
O canal de televisão indiano Zindagi, que desde 2014 veicula programas paquistaneses que se tornaram extremamente populares, os eliminou da programação.
Depois a Associação de Proprietários de Cinema e Exibidores da Índia pediu que os exibidores não lancem qualquer filme com artistas paquistaneses, pondo em risco o novo filme de Johar, "Ae Dil Hai Mushkil", com o astro paquistanês Fawad Khan.
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