Maduro fura trégua na Venezuela e chama opositor de 'rei da cocaína'
Dois dias depois de se comprometer a baixar o tom durante diálogo mediado pelo Vaticano e pela Unasul, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, chamou o principal líder opositor de "rei da cocaína".
"Como o chamam agora?", disse Maduro na terça (1°), durante seu programa semanal de TV, ao falar do governador Henrique Capriles, derrotado nas eleições presidenciais de 2012 e 2013.
Marcelo Garcia/AFP | ||
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, dança durante programa de rádio em Caracas |
Em seguida, fez um trocadilho entre a palavra "perico", gíria em espanhol para cocaína, e o aplicativo Periscope, de transmissão de imagem: "O rei do Periscope, do perico... Eles sabem", disse, arrancando risos do público.
Em resposta, Capriles desafiou Maduro a se submeter, ao vivo, a um exame para comprovar o uso de drogas. "Tenho vergonha do nível desse senhor. Quando quiser, faremos um exame toxicológico em cadeia nacional. Mas também precisamos de um detector de mentiras!"
No domingo (30), Maduro participou do início do processo de diálogo com a ala mais moderada da oposição -justamente a liderada por Capriles. Uma das quatro mesas de trabalho tem o objetivo de baixar o tom das declarações dos dois lados.
Os outros temas são presos políticos, a realização de um referendo revogatório do mandato de Maduro e a restituição do mandato de três deputados da oposição.
TRÉGUA DE 9 DIAS
No mesmo programa, o presidente venezuelano chamou de "terrorista" o partido Vontade Popular, que se negou a participar do diálogo.
A acusação diminui as chances de que seu principal líder, Leopoldo López, seja libertado _ele está encarcerado desde 2014. Na segunda-feira (31), horas após o encontro com a oposição, o governo Maduro anunciou a soltura de 5 presos políticos de baixo perfil, de uma lista de 111 nomes.
Em meio ao pessimismo sobre as negociações, Capriles disse, nesta quarta (2), que haverá uma trégua de nove dias, quando a ala moderada da oposição volta a se reunir com o governo. "Se até o dia 11, não há sinal claro sobre a libertação de presos políticos e o caminho eleitoral, não haverá diálogo."
A oposição cancelou a marcha que tentaria chegar ao palácio presidencial Miraflores nesta quinta (3). Na última vez que isso ocorreu, em abril de 2002, o então presidente Hugo Chávez sofreu um golpe de Estado, que durou dois dias.
As novas negociações aumentaram o racha na oposição _a ala de López acusa o governo de tentar desmobilizar os protestos que exigem o referendo antes de 10 de janeiro.
Após essa data, que marca dois terços do mandato, Maduro seria substituído pelo vice, chavista, se derrotado.
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