Universidades em 'luto' pela eleição de Donald Trump consolam alunos
Algumas das mais conceituadas universidades americanas vivem clima de luto pela vitória de Donald Trump. Aulas foram canceladas e provas, adiadas por causa do estado emocional de alunos e professores.
Em reação ao comportamento nos campi, dirigentes das universidades Harvard, Columbia, MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), Stanford e de Nova York (NYU) enviaram comunicados oferecendo ajuda.
Drew Angerer/Getty Images/AFP | ||
Natalie Meilen, estudante universitária, em discurso contra a política de Trump em Nova York |
Os emails, aos quais a Folha teve acesso, disponibilizam até serviços médico e psicológico para tratamento de ansiedade, raiva e tristeza.
"O clima está sombrio, parece que morreu uma avó querida de todos", disse o estudante de administração pública de Harvard Paul Antonio Ochoa, 24, mexicano.
Em Cambridge, onde fica a instituição, 89,2% dos eleitores votaram na democrata Hillary Clinton.
Desde que Trump foi eleito, todas as aulas de Ochoa tiveram discussões sobre o assunto. E, com o apoio de Harvard, foram organizadas "sessões de cura", para que todos expusessem sentimentos.
Na Columbia, em Nova York, desde quarta-feira (9) alunos e professores se abraçam e choram pelo campus e nas salas de aula. A reportagem presenciou cenas assim no Teachers College (escola de educação ligada à universidade). Alunos relataram o mesmo nas escolas de Artes, Direito, História, Ciências Sociais e Administração.
Renata Cafardo/Folhapress | ||
Bing Guan, 24, estudante de Historia de Columbia, se diz "devastado", em frente a universidade |
Provas e entregas de trabalho foram adiadas, aulas foram substituídas por debates emocionados.
"Não dá para eu simplesmente sentar e começar a discutir o prédio que vou construir", disse a americana Monica Wojnouiak, 22, estudante de arquitetura.
Outros estudantes nem sequer foram às aulas no dia seguinte às eleições, como Bing Guan, 24, que nasceu na China, mas é naturalizado americano. "Estou devastado e sem ânimo, foi um tapa na cara que doeu demais, ainda estou tentando entender."
TOLERÂNCIA
Em carta à comunidade acadêmica, o presidente da Columbia, Lee C. Bollinger, pediu que todos mantenham firmes os valores de liberdade de expressão, tolerância e respeito à diversidade, "princípios que muitos temem que estejam sendo violados".
"Na minha vida toda, não houve uma escolha (...) que tenha causado sentimentos de apreensão e vulnerabilidade em tantas pessoas, incluindo estudantes, professores e funcionários da nossa comunidade acadêmica", afirmou, no comunicado.
Em texto dirigido aos alunos e professores, o presidente da NYU, Andrew Hamilton, disse que, encerrada a campanha, "nossa tarefa é encontrar uma maneira de seguirmos em frente com as nossas vidas, a nossa comunidade, o nosso país".
Hamilton ofereceu o atendimento do centro médico e psicológico da universidade.
Em Manhattan, 10% dos eleitores escolheram Trump.
"Neste momento histórico, nós vemos que professores, alunos e funcionários estão sentindo incerteza, raiva, ansiedade e medo", diz o comunicado da Universidade Stanford, na Califórnia, que também disponibilizou seu serviço psicológico. "O mais importante é cuidarem de vocês mesmos e darem apoio para aqueles que precisam."
A universidade está organizando palestras sobre o resultado das eleições, uma delas com o título "O que importa para mim e por quê".
Depois de reunir-se com alunos para ouvir suas incertezas, a reitora da Kennedy School (a escola de administração de Harvard), Karen Jackson-Weaver, divulgou email em que se disse esperançosa, mas lembrou "a importância do cuidado com a saúde e o bem-estar neste momento pós-eleição".
"Quem estiver vivendo estresse mental e emocional e quiser conversar com alguém urgentemente contate os serviços de saúde da universidade", disse ela, na carta.
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