Julian Assange é interrogado em Londres sobre acusação de estupro
O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, 45, foi ouvido nesta segunda-feira (14) na embaixada do Equador em Londres, onde está asilado desde 2012, por um procurador equatoriano na presença de uma juíza sueca para responder à acusação de estupro que pesa contra ele na Suécia.
A procuradora sueca Ingrid Isgren, instrutora adjunta na investigação de Assange, chegou na embaixada pouco antes das 10h no horário local (8h em Brasília), segundo um fotógrafo da AFP.
Suécia e Equador negociaram há meses as condições de seu interrogatório. O Equador impôs que um procurador equatoriano fizesse as perguntas, mesmo que sugeridas pelos investigadores suecos. Foram reservados três dias para a audiência.
O advogado sueco de Assange, Per Samuelson, disse que foi excluído do interrogatório. "O Equador se recusa a me deixar entrar e insiste que o questionamento continuará sem a minha presença, contra os desejos do meu cliente", disse à Reuters.
Niklas Halle'n - 5.fev.2016/AFP | ||
O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, que vive desde 2012 na Embaixada do Equador em Londres |
Trata-se da primeira vez que Assange, australiano e acusado de estupro desde 2010, vai dar a sua versão dos acontecimentos à Justiça.
Assange não quer voltar à Suécia por medo de ser extraditado aos Estados Unidos, onde é criticado por ajudar a tornar públicos 500 mil documentos classificados sobre Iraque e Afeganistão e 250 mil comunicações diplomáticas, por meio do site Wikileaks.
Durante a campanha presidencial americana, o WikiLeaks divulgou milhares de mensagens hackeadas de pessoas próximas a Hillary Clinton, levando John Podesta, chefe da equipe de campanha da candidata democrata a acusar Julian Assange de fazer o jogo do rival Donald Trump.
Uma petição, assinada por cerca de 18 mil pessoas, pede que Donald Trump conceda "perdão presidencial" a Julian Assange e o isente de perseguição nos Estados Unidos. Uma petição semelhante foi dirigida ao atual presidente, Barack Obama, sem sucesso.
Enquanto a Justiça sueca o acusa de fugir sistematicamente de suas convocações, Per Samuelsson garante que Assange "sempre quis dar a sua versão dos acontecimentos diretamente para os investigadores."
"Pedimos esta audiência desde 2010", explicou. "Ele quer uma chance de limpar a sua honra (...) e espera que a investigação preliminar seja abandonada" após o interrogatório.
A Justiça deverá recolher, se Assange consentir, amostras de seu DNA, segundo a procuradoria sueca.
A transcrição do interrogatório será entregue posteriormente aos magistrados suecos, que decidirão o futuro da investigação.
A procuradora sueca encarregada do caso, Marianne Ny, comemorou o fato "de a investigação preliminar poder avançar com a audiência do suspeito".
QUATRO ANOS RECLUSO
O australiano permanece desde junho de 2012 na embaixada equatoriana da capital britânica, quando pediu asilo para evitar ser extraditado à Suécia.
O Ministério Público sueco quer interrogá-lo por um suposto estupro cometido em 2010, que ele nega. Ele é alvo de um mandado de prisão europeu, emitido como parte desta investigação.
Ele não deixou o local desde então, recluso em um pequeno apartamento e tendo que se contentar com algumas aparições públicas em sua varanda.
O australiano perdeu outra batalha judicial em setembro, quando, pela oitava vez em seis anos, um tribunal sueco rejeitou o recurso e confirmou o mandado de detenção europeu contra ele.
Ele solicitou no final de outubro uma simples suspensão deste mandado para ir ao funeral de um amigo, o que foi recusado.
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