Após vitória de Trump, cresce pressão por recontagem de voto em 3 Estados
Semanas após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, crescem pressões para que sejam realizadas recontagens de votos em três Estados —Michigan, Wisconsin e Pensilvânia— onde o republicano superou a sua rival Hillary Clinton.
A democrata mantinha liderança nas pesquisas de intenção de voto nesses Estados e foi derrotada por margens estreitas, o que contribuiu decisivamente para o resultado da corrida pela Casa Branca.
Dominick Reuter-26.jul.2016/Reuters | ||
Jill Stein, do Partido Verde, se pronuncia em evento na Filadélfia em julho |
A equipe da candidata do Partido Verde, Jill Stein, anunciou nesta quinta-feira (24) ter arrecadado US$ 2,5 milhões (R$ 8,5 milhões) para cobrir os custos da recontagem dos votos em Wisconsin. A sigla pretende levantar outros US$ 2 milhões (R$ 6,8 milhões) para auditar os votos em Michigan e na Pensilvânia.
A sigla argumenta que sistemas eletrônicos de votação utilizados nesses Estados podem ter falhas de segurança, tornando-os "altamente vulneráveis" a fraudes e ataques de hackers. Muitas das urnas eletrônicas emitem um comprovante dos votos em papel, permitindo que sejam recontados manualmente.
"Nosso esforço para recontar os votos nesses Estados não tem o objetivo de ajudar Hillary Clinton", disse em comunicado a campanha de Stein, que obteve cerca de 1% dos votos no pleito. "Nós merecemos eleições em que possamos confiar."
Os prazos para pedir a recontagem nesses Estados se encerrarão em alguns dias, e as autoridades eleitorais dizem que ainda não foram oficialmente contatadas para iniciar os trâmites.
Também nesta semana, um grupo de juristas e analistas de dados eleitorais entrou em contato com a equipe de Hillary, recomendando que se peça a recontagem naqueles três estados. Eles identificaram "anomalias estatísticas" que contradizem as pesquisas eleitorais e dizem que a democrata pode ter sido prejudicada pelo sistema de voto eletrônico em algumas localidades.
Os especialistas ressaltam que não há indícios de fraudes ou irregularidades eleitorais e que a explicação mais plausível para as diferenças entre as pesquisas que previam a vitória de Hillary e o resultado das urnas é que as consultas "erraram sistematicamente". Ainda assim, a recontagem dos votos serviria para se ter a garantia de que as eleições foram justas.
"A única forma de saber se um cyberataque mudou o resultado é examinar de perto as evidências físicas disponíveis —cédulas eleitorais em papel e equipamentos de voto em Estados críticos como Wisconsin, Michigan e Pensilvânia", afirmou em artigo J. Alex Halderman, pesquisador da Universidade de Michigan e líder da campanha para que os votos sejam auditados.
A equipe de Hillary não se posicionou publicamente sobre as iniciativas de recontagem dos votos. Caso a ex-secretária de Estado contestasse os resultados eleitorais, poderia ser tachada de má perdedora.
Durante a campanha eleitoral, a democrata afirmou que aceitaria o resultado das urnas e rebateu as alegações de Trump de que o pleito seria fraudado. O magnata chegou a afirmar em comício que aceitaria os resultados se fossem "claros" ou se ele fosse o ganhador.
Nas eleições de 8 de novembro, Hillary conquistou a maioria do voto popular, mas perdeu a disputa no colégio eleitoral. Esse sistema de eleição indireta distorce a representação dos eleitores, aumentando o peso relativo do voto em Estados com menor população. Além disso, na maioria dos Estados, o candidato que obtém a maioria dos votos leva todos os delegados do Estado no colégio eleitoral (veja vídeo abaixo).
Como funcionam as eleições americanas
Hillary conquistou apenas 232 dos 538 delegados que compõem o colégio eleitoral —é preciso alcançar a margem de 270 delegados para vencer.
A inesperada derrota de Hillary em Wisconsin, Michigan e Pensilvânia, que tradicionalmente votam em favor dos democratas, foi decisiva para o resultado final do pleito. Juntos, esses três Estados contam elegem 46 delegados para o colégio eleitoral, e uma vitória democrata nessas localidades seria suficiente para levar Hillary à Casa Branca.
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