Trocas de gabinete no governo e no Legislativo acirram crise na Venezuela
As mudanças no primeiro escalão do Executivo e no comando do Legislativo da Venezuela acirraram a disputa entre o governo do presidente Nicolás Maduro e da oposição, que domina há um ano a Assembleia Nacional.
Um dia após o mandatário ter nomeado Tareck El Aissami, da linha-dura do chavismo, como vice, o opositor Julio Borges assumiu nesta quinta-feira (5) o Legislativo prometendo avançar com o processo de abandono de cargo pelo presidente.
Marco Bello/Reuters | ||
O novo presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Julio Borges, discursa após a posse |
Para Borges, Maduro abandonou a Constituição ao não dar solução à grave crise econômica e social que vive o país e ao tentar impedir, por meio da Justiça e do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a realização do referendo que revogaria seu mandato.
"O povo venezuelano tem que ter o direito de votar e decidir seu futuro já. Não continue tentando conter a soberania do povo porque vai terminar arrasado. Respeite a Constituição e o povo."
Ele colocou a realização de novas eleições como um lema para 2017. A declaração contrasta com a de Maduro, que havia dito na quarta-feira (4) que este ano seria o da "contraofensiva vitoriosa".
Toda a mesa diretora da Assembleia será da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD). O vice-presidente será Freddy Guevara, integrante do Vontade Popular, partido do opositor preso Leopoldo López.
Na quarta (4), Maduro afirmou desejar que ele respeitasse o diálogo com o governo e o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). Em agosto, a Corte declarou a Assembleia em desacato por ter nomeado deputados impugnados.
Para o vice Aissami, a Assembleia é ilegítima e pretende impor um discurso de ódio e de desrespeito à Constituição. "A direita continuará com seu roteiro e seu show de costas para a verdade. Não esperávamos menos de uma direita deplorável, racista e antipopular. Vocês são mais do mesmo desastre do passado traduzido em corrupção."
GABINETE
Horas antes da posse do novo presidente do Legislativo, a oposição havia criticado a troca do vice de Maduro a reforma ministerial. O ex-presidenciável Henrique Capriles afirmou que se trata de "pura reciclagem".
"Não tenho nenhuma expectativa com esse senhor [Aissami] nem com a mudança de governo", disse, criticando os elogios de Maduro ao novo vice pelo trabalho na segurança de Aragua.
O Estado dirigido por Aissami teve a maior taxa de homicídios do país —142 por 100 mil habitantes. O segundo foi Miranda, governado por Capriles, com 140 por 100 mil habitantes. A taxa de ambos é sete vezes mais alta que a brasileira, de 21 por 100 mil habitantes.
Já o secretário-geral da MUD, Jesús Torrealba, questionou a nomeação de ministros que não conhecem suas áreas. "São pessoas que não significam nada para o país."
A disputa entre oposição e governo chegou até à TV estatal. A VTV cortou a rede nacional da posse da Assembleia para reprisar o anúncio dos novos ministros.
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