Turquia vive tensão com terrorista que fez atentado no Ano-Novo à solta

DIOGO BERCITO
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL

Autoridades turcas afirmaram nesta quinta-feira (5) que o responsável pelo atentado do Ano-Novo em Istambul pertence à etnia uigur e que as forças de segurança agora sabem onde ele pode estar escondido. Os uigures são uma minoria muçulmana que vive no oeste da China, com uma importante comunidade na Turquia.

A informação, divulgada pelo vice-premiê, Veysi Kaynak, é outro anúncio a conta-gotas sobre o ataque feito nesta semana. Desde o dia 1º, o governo tem dia a dia incrementado os detalhes do caso —o autor, no entanto, continua à solta e ainda não teve sua identidade divulgada.

O fato de que o atirador, que matou 39 pessoas em um clube noturno durante o Réveillon, segue desconhecido e oculto causa ansiedade dentro do país.

A instabilidade foi agravada nesta quinta por um ataque na cidade de Esmirna, no oeste do país.

Um carro-bomba explodiu próximo a uma corte local, deixando dois mortos e ferindo cinco. O governo suspeita de militantes do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão); já o ataque do Ano Novo foi reivindicado pela facção Estado Islâmico.

A explosão ocorreu após um embate entre os militantes e as forças de segurança. O governo diz ter impedido uma "atrocidade" no local.

As autoridades encontraram um vasto arsenal na cena: armas automáticas, granadas de mão e munição para lançadores de explosivos. Eles estariam planejando uma ação de mais impacto.

Militantes curdos têm intensificado ataques contra a Turquia —em geral visando alvos policiais ou militares.

As ações coincidem com o aumento das ofensivas turcas na região curda. Concentrados no sudeste do país, os curdos exigem mais autonomia. A Turquia, os EUA e a União Europeia consideram o PKK, que é suspeito pelo ataque em Esmirna, como uma organização terrorista.

Um outro grupo curdo reivindicou um ataque que deixou 45 mortos em 10 de dezembro, próximo a um estádio de futebol em Istambul.

CONSTRANGIMENTO

A falta de informações mais claras e a fuga do atirador do clube noturno são especialmente constrangedoras para o governo porque o estabelecimento está localizado em uma região altamente protegida e próximo de uma estação policial.

Às margens do Bósforo, a casa é conhecida por ser frequentada por jogadores de futebol, atores de telenovela, turistas árabes e a elite turca.

Ainda não está claro como o agressor conseguiu escapar após ter disparado 180 vezes durante sete minutos contra centenas de pessoas. Testemunhas dizem que a polícia chegou rapidamente à cena.

Desde então, o governo já especulou que se trate de um cidadão do Quirguistão, uma ex-república soviética na Ásia Central. Ele teria chegado à Turquia em novembro de 2016 com a mulher e seus filhos e se estabelecido na cidade de Konya.

Segundo o anúncio feito por Kaynak nesta quinta, o atirador foi "especialmente treinado" e agiu sozinho —o que contraria o testemunho de sobreviventes, que dizem ter visto mais de um atirador.

A polícia deteve suspeitos em diversas partes do país, incluindo Istambul e Esmirna. Há buscas por pessoas que podem ter ajudado o atirador a escapar –ele teria pedido dinheiro emprestado, por exemplo. Diversos dos detidos eram também uigures.

Não está claro quantas pessoas foram detidas nesta quinta-feira, mas o total de detenções desde domingo chega a pelo menos 36, segundo a imprensa local.

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