O sentimento de frustração dos envolvidos na busca pelo voo 370 da Malaysia Airlines é enorme, abrangendo desde as ondas monstruosas que fustigaram as equipes de busca em uma das áreas oceânicas mais desertas do mundo até a falta de informações sobre o voo, fatores que bloquearam a ação das equipes.
O anúncio feito pela Austrália na terça-feira (17) da suspensão oficial da busca infrutífera pelo avião no oceano Índico, levada adiante por quase três anos, desencadeou um processo inevitável de questionamento dos responsáveis pela operação, que custou US$160 milhões.
Poucos conhecem tão bem a agonia pela qual a equipe de busca está passando quanto o oceanógrafo americano David Gallo.
Em 2010, Gallo e sua equipe do Instituto Oceanográfico Woods Hole, em Massachusetts, foram incumbidos de uma tarefa: teriam dois meses para ajudar a localizar os destroços do avião que fez o voo 447 da Air France que caiu no oceano Atlântico em 2009 quando voava do Rio de Janeiro a Paris.
Quando a aeronave não foi localizada até o fim desse prazo, as autoridades suspenderam a busca. Gallo ficou doente com o fracasso; ele não conseguia dormir e ficava apenas olhando para fotos que tinha sobre sua mesa de pessoas que estavam a bordo do avião.
Ficou torturado por dúvidas, perguntando-se se sua equipe tinha de alguma maneira deixado passar os destroços.
"Foi horrível", ele se recorda. "As famílias ficaram tremendamente desapontadas, as empresas envolvidas –Airbus, Air France– queriam saber o que tinha acontecido. Perguntavam quem eram esses sujeitos que
disseram que conseguiriam localizar os destroços, mas não os encontraram."
Depois de um ano de esforços de persuasão, as autoridades deixaram Gallo e sua equipe retomar as buscas. Eles localizaram o avião em pouco mais de uma semana.
Como os investigadores do voo 370, Gallo e sua equipe foram acusados inicialmente de não saber o que estavam fazendo, de fazer uma leitura equivocada dos dados, de utilizar os equipamentos errados. Mas Gallo, que manteve contato estreito com as autoridades australianas no comando das buscas pelo voo 370, acredita que elas fizeram tudo o que estava ao seu alcance, em vista dos dados limitados disponíveis.
Recentemente os investigadores fizeram nova análise de todas as informações disponíveis sobre o avião da Malaysia Airlines e sugeriram que as equipes de busca vasculhassem uma nova região ao norte da área de 160 mil quilômetros quadrados que acabaram de examinar.
O governo australiano vetou a ideia, mas Gallo considera imperativo que as equipes sejam autorizadas a estender a busca.
"Se você termina de examinar uma área, pode dizer com a consciência limpa 'fizemos tudo que foi possível na época para encontrar o avião'", ele diz. "Mas, se não levarem a busca àquela área, isso vai nos assombrar para sempre."
E, segundo ele, localizar a aeronave é crucial, por muitas razões.
Gallo ainda pensa nas pessoas que morreram no voo 447 da Air France. Ele vive no litoral do Massachusetts, onde frequentemente vê aviões partindo para atravessar o Atlântico, de Boston à Europa. Ele pensa nos passageiros a bordo, cada um deles com seus entes queridos em casa.
A segurança dos passageiros é sua preocupação e é uma das principais razões por que ele acha crucial que o voo 370 seja localizado –pelo bem da segurança de todos que viajam de avião e pelas famílias das pessoas que estavam a bordo da aeronave que desapareceu.
"Aquelas 239 pessoas sumiram sem deixar rastros. Que preço podemos atribuir a isso?", ele diz. "E o público geral que viaja de avião. Enquanto não soubermos o que aconteceu ali, há o risco de isso acontecer com qualquer um de nós."
Tradução de CLARA ALLAIN
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