Jovens americanos temem situação pior depois de Trump, aponta pesquisa

JONATHAN LEMIRE
EMILY SWANSON
DA ASSOCIATED PRESS, DE NOVA YORK

Enquanto Donald Trump se aproxima de sua posse, os jovens americanos têm uma visão profundamente pessimista sobre o próximo governo, especialmente os jovens negros, latinos e asiáticos, preocupados com o que virá nos próximos quatro anos.

Esse é o resultado de uma nova pesquisa GenForward feita com americanos de 18 a 30 anos. Segundo ela, uma porcentagem maior de jovens adultos do país espera estar pior que hoje no final do mandato de Trump, e não melhor. Tais jovens também pensam, em maior porcentagem, que Trump dividirá o país (60%), em vez de uni-lo (19%).

Entre os jovens americanos brancos, 52% pensam que a presidência de Trump levará a um país mais dividido, a mesma opinião de 72% dos latinos, 66% dos asiático-americanos e 70% dos negros.

"As pessoas pertencentes a minorias têm muito medo de toda a retórica que se ouviu na campanha [dele]", disse Jada Selma, uma estudante de 28 anos que mora em Atlanta (Geórgia). "Sempre que ele mencionou os negros, falou em pobres ou moradores dos velhos centros. Ele acha que todos nós vivemos no centro antigo e somos pobres."

"Se você não é um homem branco hétero, acho que ele não o considera um americano", disse ela.

A GenForward é uma pesquisa entre adultos de 18 a 30 anos, feita pelo Black Youth Project [Projeto Juventude Negra] da Universidade de Chicago, com o Centro de Pesquisas de Assuntos Públicos Associated Press-NORC.

A primeira pesquisa desse tipo dá especial atenção às vozes de jovens adultos "de cor" (forma como os americanos se referem às pessoas que não são brancas caucasianas), salientando como a raça e a etnia moldam as opiniões de uma nova geração.

A pesquisa descobriu que 54% dos jovens em geral dizem que a vida das pessoas "de cor" será pior com Trump como presidente. Cerca de dois terços dos jovens negros, asiático-americanos e latinos pensam que as coisas vão piorar para as pessoas de cor, e uma maior porcentagem de jovens brancos também espera que as coisas piorem para as minorias (46%), e não que melhorem (21%).

De modo geral, 40% dos jovens adultos acreditam que pessoalmente estarão pior daqui a quatro anos, enquanto apenas 23% esperam estar melhor. Os jovens de outras etnias, de modo significativo, acreditam que estarão pior, enquanto os jovens brancos estão mais divididos em suas expectativas pessoais.

MINORIAS

Kuinta Hayle, uma afro-americana de 21 anos de Charlotte (Carolina do Norte), diz temer que o escolhido de Trump para secretário de Justiça, o senador do Alabama Jeff Sessions, possa reverter os direitos civis.

Ela disse que a incursão de Trump no "birtherism", corrente que propagava a mentira de que o presidente Barack Obama não nasceu nos EUA, ainda a incomoda.

"Aquilo foi muito importante. Ainda machuca", disse Hayle. "Ele não sabe nada sobre minha vida ou a vida das pessoas que não são iguais a ele. Sinto que Donald Trump é só para os ricos. Obama era para as pessoas que não têm muito."

Apesar de ter tido uma vitória decisiva no Colégio Eleitoral, Trump perdeu o voto popular para a adversária Hillary Clinton e pouco fez para alcançar aqueles que não o apoiaram na eleição em novembro. Ele concentrou sua jornada de agradecimento após a eleição nos Estados em que venceu, gabando-se de sua surpreendente vitória eleitoral.

Durante o fim de semana, Trump atacou o deputado da Geórgia John Lewis, um dos mais respeitados líderes do movimento pelos direitos civis, por questionar a legitimidade de sua vitória e dizer que ele não iria à posse na sexta-feira (20).

Quanto ao presidente Obama, os jovens americanos estão divididos sobre se ele fez mais para unir ou dividir os americanos (38% a 35%), com 26% dizendo que não fez nenhuma das duas coisas.

Os jovens negros (57% a 16%), latinos (57% a 19%) e asiático-americanos (46% a 27%) têm muito maior probabilidade de dizer que Obama uniu, mais que dividiu os americanos. Mas os jovens brancos tendem mais a dizer, por uma margem de 46% a 26%, que a Presidência Obama foi uma força divisora.

De fato, nem todos os jovens americanos estão pessimistas sobre o próximo presidente. "Ele será bom para a economia. Ele é um empresário e trará de volta mais empregos", disse Francisco Barrera, 26, de Fort Wayne, Indiana, que votou em Trump.

"Acho que ele fará o bem e irá pôr fim a esta correção política. Você nem pode mais dizer 'Deus' nas escolas. Trump irá colocá-lo de volta."

A maioria dos jovens adultos acredita que Trump entrará na história como um presidente não muito bom ou ruim. Os jovens "de cor" têm maior probabilidade de pensar que a Presidência de Trump será ruim ou fraca, mas até os jovens brancos têm maior probabilidade de esperar isso do que pensar que ela será boa ou ótima, em 48% a 27%.

Os jovens americanos estão divididos sobre se Trump realizará suas promessas de campanha. Enquanto a maioria pensa que ele provavelmente cortará impostos para os ricos e mais da metade dos jovens (59%) pensa que Trump irá deportar milhões de imigrantes que vivem ilegalmente nos EUA, apenas 39% acreditam que ele terá sucesso na construção de um muro ao longo da fronteira mexicana.

Entretanto, cerca da metade dos jovens hispânicos pensa que Trump provavelmente construirá um muro na fronteira. E mais de 70% dos jovens acreditam que ele definitivamente ou provavelmente terá sucesso em derrubar a lei de reforma da saúde.

"Ele ainda nem tomou posse e já está alienando as pessoas", disse Greg Davis, um estudante de graduação de 28 anos que vive em Columbus, Ohio.

"Ele ainda está se gabando das mensagens da direita alternativa. Suas ideias políticas acho que serão horríveis. Seus nomeados para cargos no gabinete são desastrosos. Ele está nomeando pessoas que têm exatamente as ideias erradas. Acho que ele será um desastre", disse Davis.

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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