Obama lamenta fim de suas medidas e diz que Trump terá visão própria

MARCELO NINIO
DE WASHINGTON

Em sua última entrevista coletiva antes de deixar a Casa Branca, o presidente Barack Obama mostrou-se resignado com o provável desmonte de algumas de suas principais iniciativas pelo sucessor, Donald Trump, que toma posse na sexta (20).

"Tendo vencido a eleição, em oposição a várias de minhas iniciativas e alguns aspectos de minha visão da direção que o país deve seguir, é apropriado que ele siga em frente com sua visão e seus valores", disse Obama. "E eu não espero que haja, você sabe, muita coincidência".

Trump assumirá o poder possivelmente sob chuva, segundo a meteorologia, e certamente sob uma tormenta de protestos, além do boicote de mais de 50 deputados democratas. Obama não quis comentar o boicote dos correligionários. "O que posso garantir é que eu Michelle estaremos lá", afirmou.

Antes de deixar o cargo, ele já teve algumas conversas com seu sucessor. Algumas longas, e todas "cordiais" e com "substância", disse o presidente. Nelas, Trump ouviu conselhos sobre a importância do trabalho em equipe e um recado claro: ninguém governa sozinho.

"Este é um cargo de tal magnitude que você não pode exercê-lo sozinho", disse.

A dois dias de deixar o poder, Obama demonstrou que pretende ser mais presente depois que virar ex do que o seu antecessor, George W. Bush, que se retirou totalmente do debate político.

O presidente disse que não pretende ficar calado se perceber graves violações de alguns direitos, como igualdade de direitos, direito ao voto e liberdade de expressão.

Em sua última coletiva, Obama fez um afago à imprensa, em outro contraste com Trump, que briga permanente com a mídia. A equipe de transição do próximo governo considera remover os jornalistas da sala em que trabalham há décadas na Casa Branca, em Washington, por os considerarem opositores.

Obama abriu a entrevista aos jornalistas com um extenso discurso sobre a importância da liberdade de imprensa para a democracia e sua presença na Casa Branca.

"Ter vocês [repórteres] neste prédio tornou o lugar melhor. Nos mantém honestos, faz com que trabalhemos mais duro", afirmou.

Foi a 165ª e última entrevista coletiva de Obama como presidente, que falou menos que o antecessor, George W. Bush, que deu 210 conferências aos jornalistas. Apesar do bom tom de Obama na despedida, a relação de seu governo com a imprensa teve turbulências, e muitos o acusam de ter sido menos acessível que Bush.

Em um dos episódios mais constrangedores para o governo, em 2013 a agência de notícias Associated Press revelou que o Departamento de Justiça havia espionado alguns de seus jornalistas.

Desde que Obama chegou ao poder os EUA caíram da 20ª para a 41ª posição no ranking de liberdade de imprensa da organização Repórteres sem Fronteiras.

Obama encerrou a coletiva tentando passar uma mensagem final positiva, afirmando que acredita nos americanos. E a maioria aprova o seu governo, segundo pesquisa da emissora CNN. O presidente tem 60% de aprovação, o índice mais alto que teve desde o primeiro ano de governo, em 2009.

O presidente também comentou a possibilidade de o governo Trump retirar as sanções contra a Rússia. Explicou que elas foram aplicadas devido à invasão russa em parte da Ucrânia e que seu esforço de manter uma relação construtiva com Moscou tornou-se impossível com a volta de Vladimir Putin à presidência do país.

Para Obama, as sanções só devem ser retiradas quando a Rússia deixar a Crimeia, o território que anexou da Ucrânia. É importante que os EUA defendam "o princípio básico de que países grandes não saem por aí invadindo e fazendo bullying com países menores", disse Obama.

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