"Várias formas de sociedades fechadas –de ditaduras fascistas a Estados mafiosos– estão no horizonte. Os Estados Unidos elegeram um aprendiz de ditador como presidente. Mas Trump vai falhar e os mercados não vão se dar bem."
Com o raciocínio e a língua afiados, apesar dos 86 anos de idade, George Soros, sócio do fundo hedge que leva seu nome e administra cerca de US$ 30 bilhões, recebeu para seu tradicional jantar em Davos, nesta quinta-feira (19).
Além de três pratos, pinot noir, e outros cinco vinhos, os comensais assistiram uma deliciosa entrevista com a repórter da Bloomberg, Francine Lacqua.
Para o bilionário, o entusiasmo dos mercados pós-eleições americanas, que viram perspectivas de crescimento maior com o novo governo, não vai durar.
"Donald Trump vai fracassar. Os mercados veem Trump desmantelando a regulamentações e reduzindo impostos. É um sonho para eles, que se tornou realidade", disse, menos de 24 horas antes da posse do 45º presidente dos EUA.
Além de doar cerca de US$ 10,5 milhões para a campanha de Hillary Clinton, ao apostar na sua vitória, Soros perdeu quase US$ 1 bilhão em negócios que se beneficiariam se o mercado caísse. Mas ele subiu.
"Eu o descrevo como um impostor, um vigarista e um aprendiz de ditador", disse, arrancando risos da plateia. Mas ele não será um ditador porque acredito que a Constituição e as instituições dos Estados Unidos serão
fortes o suficiente", disse.
"É impossível prever como ele será [na Casa Branca] porque ele não imaginava que venceria, e só quando conseguiu, começou a pensar no que fará."
Além de prever uma guerra comercial dos EUA com a China, o megainvestidor, que voltou a negociar parte dos recursos do Soros Fund Management em 2016, acredita que a União Europeia "está se desintegrando".
"Políticos falharam no Brexit e no referendo na Itália." A política de Trump vai forçar uma aproximação dela com a China, diz acreditar.
Outra aposta dele é que os britânicos se arrependerão do Brexit. Vão perceber que foi um "desastre", conforme a inflação corroer sua renda.
"Vão se dar conta de que estarão ganhando menos do que antes." Será um processo longo: "divorciar leva mais tempo que casar". Se a Europa quebrar, as consequências serão "muito desastrosas. Não acredito que vá
se salvar." Theresa May, a primeira ministra britânica tampouco vai durar, prevê.
Esta Folha esteve presente ao jantar, mas a noite foi quente demais nos Alpes para sobrar tempo para respostas sobre o Brasil.
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