Governo Trump diz que poderia ter esperado mais por veto a imigrantes

ISABEL FLECK
DE WASHINGTON

O governo Trump reconheceu nesta terça-feira (7) que deveria ter esperado mais para tomar a decisão de proibir provisoriamente a entrada de cidadãos de sete países de maioria muçulmana.

Em audiência na Câmara, o secretário de Segurança Doméstica, John Kelly, assumiu a "culpa" por não ter freado o presidente Donald Trump antes que ele assinasse o decreto vetando a admissão de refugiados por 120 dias e de cidadãos de Síria, Libia, Irã, Iraque, Iêmen, Somália e Sudão por 90 dias.

"Olhando em retrospecto, eu deveria —e isso é minha culpa— ter atrasado [o decreto] só um pouco, para poder conversar com os membros do Congresso, particularmente com a liderança de comissões como essa, para prepará-los para o que estava por vir", disse Kelly à comissão de Segurança Doméstica.

O decreto sofreu forte resistência popular, da oposição e até entre republicanos no Congresso. O presidente da comissão, o republicano Michael McCaul, classificou a decisão presidencial como "problemática", que causou "confusão no Congresso, por todo o país e pelo mundo".

"E causou problemas reais para pessoas com green cards e vistos legais, que, em alguns casos, já estavam voando para os EUA quando o decreto foi assinado", afirmou McCaul a Kelly.

SUSPENSÃO

Agora, o decreto passa por um embate legal, depois de ter sido suspenso por uma liminar concedida por um juiz federal do Estado de Washington na última sexta (3).

Na noite desta terça (7), três juízes da 9ª Corte de Apelação, em San Francisco, ouvem, por telefone, o Departamento de Justiça, defendendo a restauração da medida, e os advogados dos Estados de Minnesota e Washington, contrários ao decreto.

A decisão ainda não foi anunciada. A expectativa é que qualquer dos lados que perder a disputa na Corte de Apelação recorra à Suprema Corte. Horas antes da audiência, Trump sugeriu que levaria o caso à mais alta corte do país, se fosse derrotado.

"Vamos ver. Tomara que não seja necessário", disse o presidente ao ser questionado se recorreria à Suprema Corte. O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, não confirmou, mas também não negou que Trump possa fazer esse movimento.

Desde a suspensão do decreto, no fim de semana, cidadãos dos países atingidos pela medida aproveitaram a "janela" para embarcar para os EUA antes que a proibição voltasse a valer. A liminar fez com os 60 mil vistos revogados desde a assinatura do decreto fossem revalidados.

O Departamento de Justiça argumentou, na Corte de Apelação, que a suspensão do veto ameaça a segurança e pediu que ao menos parte do decreto fosse restaurado.

"O mandado [de suspensão] devia ser limitado ao grupo de indivíduos citados na argumentação dos Estados [de Minnesota e Washington]: já admitidos no país, que estavam temporariamente fora ou que desejam viajar e retornar ao país no futuro", diz a defesa do governo.

Trump sustenta que esses países apresentam ameaça terrorista —o Irã, por exemplo, é classificado por ele como o "Estado terrorista número 1"— e, no domingo, disse que o juiz James Robart e o sistema judiciário deveriam ser culpados se "algo acontecer" nos EUA.

Na segunda, ex-altos funcionários de inteligência e quase cem grandes empresas de tecnologia entregaram à corte documentos em que se posicionam contra o decreto.

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