'Poderia ter morrido', diz fotógrafo vencedor do World Press Photo

MIKE CORDER
ASSOCIATED PRESS, AMSTERDÃ

O fotógrafo Burhan Ozbilici, da agência Associated Press, ganhou o World Press Photo 2017 nesta segunda-feira (13), por sua imagem de um policial turco à paisana de pé junto ao corpo do embaixador da Rússia, que ele acabara de assassinar a tiros.

A imagem de Ozbilici faz parte de uma série intitulada "Um Assassinato na Turquia", que também foi premiada na categoria Spot News (furos de reportagem), ensaios. As fotos foram tiradas momentos antes e depois que o policial Mevlut Mert Altintas puxou um revólver e atirou no embaixador russo, Andrei Karlov, em uma exposição de fotos em Ancara (Turquia) em 19 de dezembro.

Na foto vencedora, o atirador, usando terno e gravata, está parado de modo desafiador, com a pistola na mão direita voltada para o chão e a mão esquerda erguida, o dedo indicador apontado para cima. Sua boca está bem aberta e ele grita com nervosismo. O corpo do embaixador está caído no chão logo atrás de Altintas.

Outra imagem da série mostra o embaixador antes dos tiros, com o atirador atrás dele.

"Foi extremamente quente, como se eu tivesse água fervendo na cabeça, depois muito, muito frio. Extremamente perigoso", disse Ozbilici em uma entrevista. "Mas ao mesmo tempo eu compreendi que era uma grande reportagem, era história, um incidente muito importante."

Então o fotógrafo veterano da AP fez o que aprendeu em cerca de 30 anos de profissão: "Imediatamente decidi fazer meu trabalho, porque eu poderia ser ferido, talvez morto, mas pelo menos tenho de representar o bom jornalismo", afirmou.

A imagem vitoriosa anunciada na segunda-feira estava entre 84.408 fotos apresentadas à prestigiosa competição por 5.034 fotógrafos de 125 países. O júri concedeu prêmios em oito categorias a 45 fotógrafos de 25 países.

"A imagem notável de Burhan foi o resultado de perícia e experiência, tranquilidade sob extrema pressão e dedicação e sentido de missão que marcam os jornalistas da AP em todo o mundo", disse a editora-executiva da agência, Sally Buzbee. "Estamos muito orgulhosos dessa conquista."

O presidente do júri, Stuart Franklin, chamou a foto de Ozbilici de "uma foto jornalística incrivelmente impactante", parte de uma forte série que documenta o assassinato.

"Acho que Burhan foi incrivelmente corajoso e teve uma tranquilidade extraordinária ao ser capaz de se acalmar no meio da confusão e tirar as fotos marcantes que tirou", disse Franklin. "Acho que como um furo de reportagem foi maravilhoso."

Denis Paquin, diretor de fotografia da Associated Press, disse que as ações de Ozbilici naquele dia foram típicas de seu profissionalismo.

"Burhan lhe diria que estava apenas fazendo seu trabalho. Seu humilde profissionalismo, combinado com uma incrível coragem, permitiram que ele captasse essas imagens inesquecíveis", afirmou Paquin.

A seleção eclética de vencedores salientou o tema dominante no noticiário do ano passado –incluindo o conflito na Síria e no Iraque, a crise de refugiados, a morte do ditador cubano Fidel Castro e os Jogos Olímpicos no Rio. Entre as fotos de natureza estavam imagens mostrando o efeito devastador dos seres humanos sobre a vida natural, incluindo uma terrível foto de um rinoceronte com o chifre arrancado e outra que mostra uma tartaruga nadando presa em uma rede de pesca verde.

Entre outros vencedores, Jonathan Bachman, dos EUA, fotógrafo da Reuters, ganhou o prêmio de Questões Contemporâneas, foto individual, com uma imagem de Ieshia Evans sendo detida em Baton Rouge durante uma manifestação em 9 de julho pela morte de Alton Sterling, um homem negro morto pela polícia. Evans está de pé rígida, com um vestido esvoaçante, enquanto dois policiais com trajes à prova de balas se aproximam para levá-la presa.

Crédito: Jonathan Bachman - 09.jul.2016/Reuters FILE PHOTO - A demonstrator protesting the shooting death of Alton Sterling is detained by law enforcement near the headquarters of the Baton Rouge Police Department in Baton Rouge, Louisiana, U.S. July 9, 2016. REUTERS/Jonathan Bachman/File Photo REUTERS PICTURES OF THE YEAR 2016 - SEARCH 'POY 2016' TO FIND ALL IMAGES ORG XMIT: POY047
Foto vencedora da categoria questões contemporâneas do World Press Photo

Franklin chamou a imagem de Bachman de "uma espécie inesquecível de comentário sobre a resistência passiva. É realmente uma linda fotografia. Você nunca a esquecerá".

O fotógrafo da AP Vadim Ghirda, que trabalha na Romênia, ganhou o segundo prêmio na categoria Questões Contemporâneas, foto individual, com uma imagem de forte carga emotiva de migrantes que atravessam um rio, tentando chegar à Macedônia, vindos da Grécia, enquanto outro fotógrafo da agência, Felipe Dana, ficou em terceiro na categoria Spot News, foto individual, por sua imagem de uma explosão em Mossul, no Iraque. E Santi Palacios ganhou o segundo prêmio em Notícias Gerais, por uma foto que foi divulgada pelo serviço AP de duas crianças nigerianas que disseram que sua mãe havia morrido na Líbia a bordo de um barco de resgate no mar Mediterrâneo.

Traduzido por LUIZ ROBERTO M. GONÇALVES

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