Conselheiro de Trump se demite após discutir sanções com Rússia

ISABEL FLECK
DE WASHINGTON

Primeira baixa no alto escalão do governo Trump, a queda do conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, na noite de segunda-feira (13), expôs como a Casa Branca tem trabalhado de maneira conturbada no primeiro mês do republicano no poder.

O general Flynn caiu após ter sido revelado que ele conversou em dezembro, antes mesmo de Trump assumir, com o embaixador russo nos EUA, Sergei Kislyak, sobre as sanções aplicadas contra Moscou. Em seu lugar, assumiu interinamente o general Joseph Keith Kellogg, que serviu por mais de 30 anos nas Forças Armadas.

A imprensa americana havia divulgado, na última sexta, a descoberta dos serviços de inteligência de que Flynn havia pedido ao russo para não reagir de forma desproporcional antes que Trump chegasse à Casa Branca, porque ele poderia rever as sanções, aplicadas por Obama sob a acusação de que Moscou interferiu nas eleições americanas.

O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse que Trump pediu a renúncia de Flynn porque a confiança do presidente no conselheiro se "desgastou" depois que ele "enganou" o vice, Mike Pence, ao dizer que as sanções não tinham sido tema da conversa com o embaixador.

Horas antes, porém, uma das mais importantes assessoras de Trump, Kellyanne Conway, havia afirmado que a decisão sobre a renúncia tinha sido do próprio Flynn.

Outra questão controversa foi a defesa de Spicer sobre o conteúdo da conversa. Enquanto a oposição diz que Flynn pode ter infringido a lei que proíbe cidadãos de fora do governo de "conduzir" a diplomacia americana, o porta-voz disse que o único problema foi de quebra de confiança de Pence e Trump, e não o que foi discutido.

Em mais um conflito de versões sobre o caso, Trump havia dito a repórteres, na sexta, que desconhecia a informação sobre o telefonema entre Flynn e o embaixador. Nesta terça, contudo, o "Washington Post" revelou que o Departamento de Justiça alertou a Casa Branca em janeiro que o general teria mentido e poderia estar vulnerável a chantagem de Moscou.

Após a publicação, Spicer disse que Trump já avaliava a situação de Flynn "por algumas semanas".

Segundo o "New York Times", Flynn teria sido inclusive interrogado pelo FBI (polícia federal) nos primeiros dias do novo governo.

Para Rebecca Lissner, do Council on Foreign Relations, o fato de o general ter sido mantido em uma das posições mais sensíveis do governo mesmo com essas informações é "extremamente preocupante".

"Isso mostra que o governo e, possivelmente, o presidente estavam indiferentes à vulnerabilidade de Flynn", disse à Folha. "Ainda permanecem perguntas sobre os laços do governo com Moscou."

Congressistas democratas questionam se realmente Trump e sua equipe não sabiam do conteúdo da conversa –e, se não sabiam, questionam como um integrante do alto escalão poderia estar agindo sozinho num tema tão sensível. Os opositores querem que Flynn vá ao Congresso prestar explicações.

Trump, ao se pronunciar sobre o caso, jogou a culpa nos "vazamentos ilegais" sobre seu governo. "A verdadeira história aqui é por que há tanto vazamento ilegal saindo de Washington? Esses vazamentos vão acontecer enquanto eu estiver negociando sobre Coreia do Norte etc?", escreveu.

A falta de controle sobre sua equipe para evitar que informações saiam da Casa Branca tem irritado Trump desde o vazamento de sua conversa com o líder russo Vladimir Putin, em janeiro.

"Uma mudança tão cedo, em um alto nível no governo, envia um alerta sobre a habilidade de Trump de governar de forma eficaz", diz Lissner.

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