Kim Jong-nam era pequena esperança de mudança na Coreia, diz jornalista
O autor japonês de um livro sobre Kim Jong-nam, meio-irmão do líder da Coreia do Norte que foi morto nesta semana em um aeroporto da Malásia, diz que ele se opunha ao domínio hereditário de sua família e desejava reformas econômicas.
Yoji Gomi, jornalista radicado em Tóquio, oferece em "Meu Pai, Kim Jong-il, e Eu", um raro retrato da família governante da Coreia do Norte, incluindo Kim Jong-nam, aparentemente assassinado na segunda-feira.
Para Gomi, Kim Jong-nam, filho de Kim Jong-il, ditador da Coreia do Norte morto em 2011, e meio-irmão do atual líder Jim Jong-un, representava uma pequena esperança de mudança para o isolado país comunista.
"Eu o via como alguém que tinha algo significativo a dizer, e que talvez pudesse levar mudanças à Coreia do Norte", disse Gomi em entrevista coletiva em Tóquio, na sexta-feira.
Jung Yeon-Je - 14.fev.2017/AFP | ||
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Pessoas assistem em Seul à notícia sobre morte de Kim Jong-nam, irmão do ditador norte-coreano |
O primeiro contato entre eles aconteceu em 2004, quando se encontraram por acaso no aeroporto de Pequim. Isso levou a uma troca de 150 e-mails e a duas entrevistas em 2011, uma em Pequim e a outra em Macau, com um total de sete horas de conversa, disse Gomi.
"Ele criticava o regime da Coreia do Norte", e dizia que a liderança hereditária do país "não funciona em um sistema socialista, e que o líder deveria ser selecionado por meio de um processo democrático", disse Gomi.
Kim Jong-nam também disse que o país não teria como sobreviver sem reformas econômicas semelhantes às adotadas pela China, afirmou. Segundo ele, Kim Jong-nam parecia nervoso durante a entrevista que concedeu em Macau em 2011.
"Ele devia estar ciente do perigo, mas acredito que ainda assim desejasse transmitir suas ideias a Pyongyang via mídia", disse Gomi. "Ele estava suando profusamente, e parecia muito desconfortável ao responder as minhas perguntas. Provavelmente estava preocupado com o impacto de suas comentários e expressões. Pensar nisso agora me dá dor no coração."
Existe muita especulação quanto ao possível envolvimento do governo da Coreia do Norte na morte de Kim Jong-nam. A polícia da Malásia deteve três pessoas supostamente relacionadas ao caso, mas ainda não se sabe se elas têm vínculos com o país.
Kim revelou ao entrevistador que o governo chinês o protegia, na China, onde ele contava com os serviços de um guarda-costas, mas que a proteção não se estendia a outros países da Ásia.
O serviço de inteligência da Coreia do Sul disse que Pequim protegia Kim Jong-nam há muito tempo, um indício de que a China o via como futuro líder da Coreia do Norte caso o governo atual desabe, em Pyongyang.
As frequentes viagens de Kim a países do Sudeste Asiático talvez fossem indicação de um crescente distanciamento entre ele e o governo da China, disse Gomi.
Depois de viver na Europa durante a adolescência, Kim Jong-nam passou a acompanhar o pai em suas viagens pela Coreia do Norte, uma indicação de que Kim Jong-il em algum momento encarava seu filho mais velho como possível sucessor.
Kim acreditava ter caído em desgraça junto ao pai por conta de suas críticas ao regime, disse Gomi.
Kim Jong-nam aparentemente considerava seu país como rígido demais. Ele gostava de jantar em um restaurante na China no qual sul-coreanos, japoneses e pessoas de outras nacionalidades se reuniam livremente, para beber, comer e conversar, disse Gomi.
"Ele disse que sua esperança era que o mundo um dia fosse daquele jeito, sem muralhas. Não consigo esquecer esse comentário", disse Gomi.
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