Descrição de chapéu RFI

Francófono, Kim Jong-nam adorava Paris e curtia ouvir Serge Gainsbourg

DA RFI

O jornal "Le Monde" publicou um artigo bastante curioso sobre as relações de Kim Jong-nam, o meio-irmão assassinado do ditador norte-coreano Kim Jong-un, com a França.

Ele vinha várias vezes por ano a Paris, onde os amigos ignoravam sua real identidade.

"Foi olhando o perfil no Facebook de um amigo do colégio, em que aparecem testemunhos de tristeza, que Delphine compreendeu. O colega adolescente, com quem ela retomou contato em 2007, sempre o chamando pelo nome que ele usava, Lee, era o homem de quem todas as mídias do mundo falaram no dia 14 de janeiro."

Assim começa o artigo do jornal francês, que entrevistou Delphine, ex-colega de classe de Kim Jong-nam, ou Lee, assassinado no aeroporto de Kuala Lumpur depois de inalar um potente agente químico, o gás VX.

TALENTO

Delphine estudou com ele na prestigiosa Escola Internacional de Genebra, e conta para o "Le Monde" que nem durante sua juventude, quando se viam todos os dias, nem durante as recentes conversas telefônicas, Kim Jong-nam revelou sua verdadeira identidade, sendo conhecido por todos como Kim Chol.

"Foi lendo os posts em seu mural que Delphine, que hoje vive na Bretanha, compreendeu que tinha sido amiga do meio-irmão do ditador mais temido do planeta", diz o artigo.

Ela conheceu Jong-nam nos anos 1980, quando ele foi estudar na Suíça, onde sempre se manteve discreto sobre suas origens. Delphine lembra que ele tinha jeito para desenhar: "Era talentoso, e com seu humor, poderia ter se lançado nas histórias em quadrinhos", lembra.

Antes de ir para Genebra, Kim Jong-nam havia estudado em Moscou. Foi na capital russa que ele se inscreveu na escola primária do Liceu francês, famoso por seu alto nível, e onde aprendeu a falar perfeitamente o idioma.

O "Le Monde" entrevistou um colega da época, que lembra que ele usava o nome de família "Ri" e ocupava um andar inteiro de um prédio, tendo reunido de cinco a seis apartamentos para formar um só.

"Em uma sala, ele tinha uma coleção impressionante de relógios Rolex e de canetas Montblanc. Uma outra era lotada de vídeos", lembra o entrevistado anônimo, dizendo também que ele adorava filmes de kung-fu.

Uma Mercedes Benz com motorista e dez empregados cuidavam dele e de sua prima, com quem morava. "Isso me intrigava, eu me perguntava o que aquele menino fazia sozinho em Moscou, sem o pai."

O jornal francês destaca que o medo dos entrevistados em relação ao ditador norte-coreano Kim Jong-un é tão grande que nenhum deles aceitou ser fotografado ou identificado. Mas todos são unânimes em classificar Jong-nam de "gentleman", "jovial", "discreto", "normal", "despretensioso".

Quando o jovem Kim Jong-un, sedento de poder, mandou executar seu tio em dezembro de 2013, o meio-irmão sentiu a ameaça pesar sobre sua família. Uma verdadeira escolta policial passou a proteger um de seus filhos, Kim Han-sol, estudante no curso Europa-Ásia na renomada SciencesPo do Havre, no norte da França. Han-sol terminará a formação em Paris.

GAINSBOURG

O "Le Monde" conclui que a escolha de enviar seu filho para estudar na Normandia foi um dos sinais da afeição que Kim Jong-nam tinha pela francofonia. O jornal cita um post dele no Facebook, em 2013: "Tenho saudades da Europa". Entre seus artistas favoritos, estava o cantor Serge Gainsbourg.

Jong-nam vinha a Paris várias vezes por ano, conta uma outra amiga ouvida pelo jornal, confirmando que ele passou pela capital em janeiro passado; como sempre, ele só avisou os amigos quando já estava na cidade.

As últimas investigações reforçaram a suspeita de que Kim Jong-nam tenha sido morto pelo regime da Coreia do Norte.

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