Justiça acusa Macri de tráfico de influência por beneficiar aérea

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A MONTEVIDÉU

Poucas horas antes de seu discurso de abertura ao Congresso, o presidente argentino, Mauricio Macri, e outros membros da cúpula do governo foram acusados judicialmente por irregularidades na entrega de rotas aéreas à empresa aérea Avianca.

Segundo o promotor Jorge Di Lello, o governo teria beneficiado a companhia aérea pelo fato de ela estar vinculada a uma empresa do Grupo Macri. A Justiça investigará o presidente, seu pai e dono da mesma, Franco Macri, e membros do governo por suposto tráfico de influências na distribuição de rotas pelo espaço aéreo argentino.

Segundo a Folha apurou, o governo vem se mostrando muito preocupado com o surgimento das ligações do grupo empresarial familiar do presidente da República e o Estado.

O escândalo dos Correios, que veio à tona há algumas semanas, custou a Macri a queda de sua aprovação popular em 10 pontos percentuais, segundo o instituto Isonomia.

No caso, a Procuradoria investiga as ações do governo para perdoar parte considerável da dívida que a família Macri tem com o Estado por ter administrado os Correios entre 1997 e 2003, levando-o a sua quebra e endividamento —com o Estado e também investidores privados.

Pelo acordo realizado já durante a gestão Macri, o grupo familiar teria de desembolsar apenas 2% da dívida.

Na semana em que o caso estourou, Macri convocou uma entrevista coletiva dizendo que esse acordo estava cancelado e que as negociações voltariam à "folha zero". A Justiça, porém, segue investigando.

ODEBRECHT

Enquanto isso, a deputada oposicionista Margarita Stolbizer, que já havia pedido em dezembro que a Procuradoria investigasse a entrega de US$ 35 milhões em propinas da empreiteira brasileira Odebrecht à funcionários argentinos entre 2007 e 2015, irá nos próximos dias pedir uma ampliação da investigação e a unificação das cinco denúncias já em curso em apenas uma.

Num primeiro momento, suspeitava-se de que os principais envolvidos estavam conectados apenas à cúpula kirchnerista, como o ex-ministro do Planejamento Julio De Vido e o ex-secretário do Transporte Ricardo Jaime.

Depois, surgiram acusações, levantadas pela imprensa local, de que o atual chefe de gabinete do governo Macri, Gustavo Arribas, recebera cinco pagamentos da empreiteira brasileira, assim como o presidente da construtora Iecsa, Angelo Calcatierra, que é primo de Macri. Ambos estariam envolvidos em obras na área metropolitana de Buenos Aires, em 2010, especificamente o soterramento de parte de uma linha de trem.

Na época, Cristina Kirchner era a presidente, mas Macri era o prefeito da capital argentina.

Em entrevista à Folha há três semanas, Macri não quis comentar os casos que se referiam a seus funcionários e sua família.

Afirmou que pediria à ministra do STF Cármen Lúcia, durante sua visita ao Brasil, a lista dos nomes dos argentinos envolvidos no caso Odebrecht e que, antes de ter a relação oficial, não faria nenhuma declaração.

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