Ex-premiê diz que não será candidato e aprofunda crise da direita na França

DIOGO BERCITO
EM ROMA

O ex-premiê francês Alain Juppé afirmou nesta segunda-feira (6) que não irá concorrer às eleições presidenciais. Havia expectativa de que ele substituísse o rival François Fillon como candidato da direita à Presidência.

A popularidade de Fillon, que chegou a ser o favorito ao pleito, está ameaçada por uma denúncia de corrupção e existe pressão para que ele abandone a candidatura.

Juppé afirmou ter decidido "de uma vez por todas" que não irá concorrer à Presidência e disse que Fillon desperdiçou sua chance de vitória. "Nosso país está doente", disse Juppé em Bordeaux, cidade do litoral oeste da qual é prefeito. "Para mim é tarde demais, mas não é tarde demais para a França."

Com o declínio da campanha de Fillon e a negativa de Juppé, o partido conservador Republicanos pode ser derrotado já no primeiro turno, em 23 de abril. Será a primeira vez na história da França desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) em que o principal partido de direita não chegará ao segundo turno.

As pesquisas apontam, por ora, que o segundo turno será disputado em 7 de maio pela líder da extrema direita, Marine Le Pen, da Frente Nacional, e pelo centrista independente Emmanuel Macron. Macron deve ser eleito.

Sondagem divulgada nesta segunda aponta Le Pen na liderança, com 27% das intenções de voto, seguida por Macron (24%) e Fillon (19%).

Em um segundo turno, porém, a candidata da extrema direita seria derrotada tanto por Macron (60% a 40%) quanto por Fillon (56% a 44%).

COMPLÔ

Fillon é acusado de ter remunerado sua mulher, Penelope, como assistente parlamentar sem que ela tivesse exercido o cargo. Ele também teria contratado dois de seus filhos. O conservador admite ter errado na decisão.

As contratações não são, em si, ilegais na França. O problema, segundo as denúncias, é que seus familiares não cumpriram com as funções, o que Fillon nega.

Fillon tinha, segundo o ex-premiê Juppé, o caminho à Presidência aberto diante de si. Mas "a instigação de investigações judiciais contra ele e sua defesa baseada em um suposto complô levaram ele a um beco sem saída".

Crédito: Geoffroy van der Hasselt - 5.fev.2017/AFP O candidato da direita à Presidência francesa, François Fillon, em comício no domingo (5) em Paris
O candidato da direita à Presidência francesa, François Fillon, em comício no domingo (5) em Paris

Apesar de toda a pressão, Fillon tem se recusado a desistir, afirmando haver uma tentativa de "assassinato político" contra ele. Ele falou a seus simpatizantes em uma passeata neste domingo (5).

Dezenas de políticos retiraram seu apoio à candidatura, incluindo seu porta-voz, Thierry Solère, e seu diretor de campanha, Patrick Stefanini, que se demitiram.

Mas, após a declaração de Juppé, o comitê político dos Republicanos reiterou nesta segunda seu "apoio unânime" à candidatura de Fillon, em uma tentativa de mostrar a coesão do partido na crise.

A sigla não pode substituir Fillon à força. Ele foi eleito em primárias em novembro. O ex-presidente Nicolas Sarkozy, que assim como Juppé foi derrotado nas primárias, tem se mobilizado para que Fillon abandone a candidatura, mas não está claro quem tomaria o lugar.

DEVER

A crise do partido conservador Republicanos aumenta as chances de que os radicais da Frente Nacional, representados por Marine Le Pen, vençam as eleições.

O presidente François Hollande, do Partido Socialista, afirmou em entrevista aos principais jornais europeus publicada nesta segunda-feira que é seu dever impedir a vitória de Le Pen neste ano. Ele disse que a extrema direita nunca esteve tão perto de chegar à Presidência.

Hollande decidiu não concorrer a um segundo mandato, em decisão inédita para um presidente francês desde a Segunda Guerra. O Partido Socialista elegeu como candidato o ex-ministro da Educação Benoît Hamon, que aparece em quarto lugar nas pesquisas, com cerca de 15%, e não tem chance de chegar ao segundo turno.

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