Impeachment traz dúvidas sobre futuro político da Coreia do Sul

DE SÃO PAULO
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O impeachment de Park Geun-hye abre um período de incerteza na Coreia do Sul, no qual deverão ser questionadas as bases político-econômicas que regem o país há 50 anos, o que deve afetar também a relação com o mundo.

A presidente conservadora foi deposta pelo Tribunal Constitucional (suprema corte) nesta sexta (10), sob a acusação de pressionar empresas a fazer doações a fundações de sua melhor amiga em troca de favores do governo.

A divisão política provocada pelo escândalo teve suas primeiras cenas de violência nas horas seguintes à decisão. Três manifestantes pró-Park morreram quando os aliados da presidente se enfrentaram com opositores e a polícia.

Segundo a agência de notícias Yonhap, um homem de 70 anos morreu ao ser atingido por uma caixa de som que caiu de um ônibus da polícia.

Um idoso de 60 anos teve um mau súbito e foi levado ao hospital, mas não resistiu. O terceiro, de 70 anos, morreu após sofrer uma parada cardíaca neste sábado (11). Dezenas de pessoas ficaram feridas.

O presidente em exercício, Hwang Kyo-ahn, pediu aos dois lados que deixem as diferenças. "Não é o ideal expandir o conflito. Vidas preciosas foram perdidas, e isso não pode voltar a acontecer."

Hwang ficará no cargo até maio, quando ocorrem novas eleições. Com o impeachment, os conservadores perdem força, o que deve levar à volta dos progressistas ao governo após dez anos.

O favorito no pleito é Moon Jae-in, do Partido Democrático, que tem 36% das intenções de voto, segundo pesquisa do instituto Realmeter.

Ele, que perdeu para Park por uma diferença de três pontos em 2012, disse recentemente que o país precisa "liquidar o velho sistema para construir um novo país".

O discurso encontra eco entre os manifestantes pró-impeachment, que pedem o fim da impunidade e transparência na estreita relação entre o Estado e os conglomerados empresariais, forjada pelo ditador Park Chung-hee, pai da presidente deposta.

As ruas parecem ter influenciado as decisões da Justiça. Em 16 de fevereiro, o vice-presidente da Samsung, Lee Jae-young, foi preso sob a acusação de doar US$ 55 milhões a Choi Soon-sil, amiga de Park, em troca da aprovação da fusão de duas divisões.

Ele não teve a sorte do pai, Lee Kun-hee, que nunca foi para a cadeia mesmo tendo sido condenado por corrupção em 2008. Além da Samsung, as empresas Hyundai, LG, Lotte e KT são investigadas.

DIPLOMACIA E ESCUDO

Se a eleição de Moon se confirmar, ele terá que lidar com a polêmica da instalação do escudo antimísseis dos EUA e a crise com a China.

Logo após a decisão, os EUA e o Japão disseram que nada muda com o impeachment. O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, deverá ir a Seul na semana que vem e foi mantida a montagem do escudo, que terminará antes do pleito.

A China voltou a pressionar pelo fim do sistema, cuja instalação o candidato favorito promete reavaliar.


IMPEACHMENT NA COREIA DO SUL

AS ACUSAÇÕES

Extorsão e abuso de poder
Park teria pedido a assessor ajuda para que Choi Soonsil ganhasse contratos de publicidade da Hyundai e da KT, pressionado as empresas a doar a fundações da amiga

Vazamento de documentos confidenciais
Líder era acusada de entregar a Choi 47 relatórios sigilosos, com dados sobre nomeações de funcionários públicos

Violação da Constituição
Ela teria empregado aliados da amiga, demitido quem queria denunciar o esquema e forçado jornal a demitir presidente por publicar reportagens sobre o caso

Suborno
Park era suspeita de subornar por meio de doações a Choi em troca de favores

CRONOLOGIA

set.2016
Imprensa revela tráfico de influência de Choi e Park

25.out
Líder pede desculpas; Promotoria abre investigação

4.nov
Presidente assume culpa e aceita investigação

9.dez
Parlamento a afasta sob acusação de suborno

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