No Reino Unido, ativistas atuam em negociações para suavizar o 'brexit'

DIOGO BERCITO
ENVIADO ESPECIAL A EDIMBURGO (ESCÓCIA)

O estudante britânico Keiran MacDermott fez campanha nos últimos meses para impedir que o Reino Unido deixasse a União Europeia.

O "brexit", porém, solidificou-se na quarta-feira (29) quando a primeira-ministra britânica, Theresa May, iniciou o processo de ruptura, que deve durar dois anos.

Diante dos fatos, MacDermott e outros ativistas -incluindo aqueles a favor do "brexit"- estão agora recalibrando as suas estratégias para influenciar o resultado das negociações britânicas com a União Europeia, garantindo o melhor acordo.

MacDermott organizou no sábado passado o protesto do United for Europe (unidos pela Europa) com milhares de descontentes com o "brexit". "Queríamos mostrar que não acreditamos que o governo está pensando no interesse do país", diz à Folha.

Se o "brexit" é inevitável, afirma, a premiê May deveria ao menos desistir de impôr um "brexit duro", um modelo em que o Reino Unido deixaria o mercado único europeu e impediria a livre circulação de pessoas.

"Não acho que a nossa marcha, isolada, vá mudar o pensamento do governo", diz MacDermott. "Mas é parte de um contexto mais amplo e demonstra que a opinião pública está mudando."

A pressão virá também da organização People's Challenge (desafio do povo), liderada por Grahame Pigney.

Pigney foi um dos responsáveis por levar o governo à Justiça no início deste ano para transferir ao Parlamento o poder de acionar o "brexit" -o que não atrasou nem impediu o processo.

Ele manterá seu ativismo. "Queremos ter certeza de que a decisão final, depois das negociações, levará em conta os interesses de todo o Reino Unido, e não apenas de uma minoria que favorece um 'brexit duro'", diz Pigney.

VALER A PENA

Do outro lado do espectro, o centro de pesquisas eurocético Open Europe contratou novos funcionários e se propôs a produzir estudos para influenciar os rumos das negociações do "brexit".

"Estamos tentando ser pragmáticos", afirma à Folha a analista Aarti Shankar. "Não estamos mais em campanha e precisamos entender como a saída pode valer a pena para o Reino Unido."

Nesta semana, a entidade aconselhou o governo a deixar a união aduaneira, que permite a circulação de mercadorias. Assim, poderia retomar o controle de sua política comercial, diz o estudo.

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