A Controladoria-Geral da Venezuela determinou na quinta-feira (6) a cassação por 15 anos dos direitos políticos de Henrique Capriles, um dos principais dirigentes contrários a Nicolás Maduro e nome mais cotado da oposição para as eleições de 2018.
A inabilitação deverá acirrar mais a briga política entre o governo chavista e seus rivais, que esquentou nos últimos dez dias, e ser mais um motivo para os protestos opositores deste sábado (8).
Governador do Estado de Miranda, Capriles foi notificado nesta sexta-feira (7). Em discurso, ele disse que continuará em seu cargo e chamou os responsáveis pela decisão de "paramilitares políticos".
"Enfiem a cassação naquele lugar onde não entra luz", disse. "O único inabilitado neste país é Nicolás Maduro".
A declaração foi feita ao lado de líderes de outros partidos da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD), a quem pediu união.
"Hoje mais do que nunca temos que lutar. Para essa minoria [o governo] não sobra mais que estas instituições sequestradas. Tudo isso não passa de um autogolpe".
Desde fevereiro, ex-presidenciável era investigado pela Controladoria-Geral sobre a suspeita de ter recebido propina da Odebrecht para entregar obras do Estado que governa à empreiteira.
O órgão determinou que ele também pagasse uma multa por ter alterado ilegalmente o orçamento de Miranda. Na terça (4), o ministro do Interior, Néstor Reverol, abriu um processo contra Capriles por envolvimento na violência nos protestos e por permitir o bloqueio de estradas.
Dois dias depois, foi ameaçado de ser preso por chavistas. Um deles, Freddy Bernal, disse que o opositor acabaria "em um calabouço com Leopoldo López", opositor condenado a quase 14 anos de prisão sob a acusação de incitar a violência nos protestos contra Maduro em 2014.
A punição ao governador foi repudiada pelo secretário-geral da OEA, Luis Almagro, que deseja suspender a Venezuela por considerar que o governo rompeu com a Carta Democrática Interamericana.
"O único que tira direitos políticos é o povo e mediante as eleições. Trata-se de uma medida típica de uma ditadura que viola os direitos civis e políticos", disse.
Em nota, o governo brasileiro considerou a cassação "uma grave violação das garantias e liberdades fundamentais" e pediu a restauração das instituições democráticas na Venezuela.
ELEIÇÕES
Capriles perde os direitos políticos às vésperas da eleição para governadores e prefeitos, adiadas duas vezes. Na última, em fevereiro, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) abriu um processo de revalidação dos partidos.
Agora, a previsão é que o pleito aconteça no segundo semestre. Para a oposição, o governo adia a votação pelo risco de derrota –a rejeição a Nicolás Maduro é de 70%.
A suspeita de ter sido uma decisão direta do governo cresce porque o controlador-geral, Miguel Galindo, é padrinho de um dos filhos de Cilia Flores, mulher de Maduro, e foi indicado pelo presidente ao cargo em 2014.
O recurso de cassar os direitos políticos foi usado pelo chavismo em 2015, quando cinco opositores foram impedidos de se candidatar. A estratégia, porém, não evitou a derrota na eleição.
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