Minoria curda teme consequências de plebiscito na Turquia

DIOGO BERCITO
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL

A campanha do "não", derrotada no plebiscito deste domingo (16), teve especial apelo na região sudeste da Turquia, que concentra a população curda.

Essa minoria étnica vive um longo embate com o governo central, exigindo maior autonomia. Seu cessar-fogo com as autoridades turcas foi rompido em julho de 2015 e, desde então, milícias curdas reivindicaram uma série de atentados.

Um dos sinais mais claros da crescente repressão no país é o desmonte da sigla HDP (Partido Democrático dos Povos), criada em 2012 com a proposta de representar as minorias do país, em especial os curdos.

O HDP convenceu os jovens e a classe média e se tornou a terceira força política do país. Dezenas de membros de sua liderança, porém, estão presos. Selahattin Demirtas, codiretor do partido, foi detido em novembro.

Ele afirmou em uma entrevista recente à revista "Foreign Policy", feita na prisão, que os curdos rejeitariam no plebiscito "as políticas do governo e a suspensão dos direitos democráticos".

Foi o que ocorreu em áreas como Tunceli, onde o "não" recebeu 80% dos votos, e Sirnak, 71%.

"Os curdos votaram pelo seu futuro", disse à Folha Levent Piskin, ativista e advogado de Demirtas. "Nossa atitude, é claro, foi de escolher o 'não'. E tivemos um sério impacto no resultado."

O HDP participou do monitoramento da contagem de votos e foi um dos partidos de oposição que contestaram parte das cédulas eleitorais. A atitude pode agravar ainda mais a sua situação.

"A pressão aos membros do HDP está diretamente relacionada a este referendo e seu conteúdo", afirma Piskin. "O governo é nacionalista, islâmico e conservador."

A tensão entre o Estado e a população curda foi especialmente marcada no domingo em Diyarbakir, no sudeste, onde três pessoas morreram em um tiroteio durante o voto em uma escola. Mais de 67% da população dessa área votou "não".

Curdos

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