Ala moderada do Partido Republicano é desafio para 'Trumpcare'
Vencido o obstáculo na Câmara na última quinta (4), agora é hora de o governo de Donald Trump mirar a apertada maioria de seu partido no Senado para tentar cumprir sua promessa de campanha de substituir o Obamacare.
Só que, depois de ceder à pressão da ala mais conservadora para obter a aprovação da Lei de Saúde Americana entre os deputados, Trump terá agora que cortejar senadores republicanos mais moderados, preocupados com o impacto das mudanças sobre a cobertura de saúde para os mais pobres e os mais velhos.
Carlos Barria - 4.mai.2017/Reuters | ||
O presidente Donald Trump sorri ao lado dos legisladores após aprovação do fim do Obamacare |
Membros da liderança republicana no Senado, como Roy Blunt, do Missouri, já declararam que os senadores do partido vão querer redigir sua própria lei. Para isso, um pequeno grupo começou a se reunir, na quinta, com o líder da maioria na casa, Mitch McConnell, para definir as "prioridades" dos senadores.
De acordo com John Cornyn, vice-líder republicano no Senado, o grupo é plural o bastante para representar os diferentes pontos de vista dos parlamentares do partido na casa.
Ilustração Carolina Daffara/Editoria de Arte/Folhapress | ||
Nesta sexta (5), a Casa Branca, tentou demonstrar confiança quanto à tramitação do projeto no Senado e ao poder de persuasão de Trump. "Nunca devemos subestimar este presidente", disse a vice-porta-voz Sarah Huckabee Sanders. "Ele já demonstrou várias vezes que, se está comprometido com algo, ele vai fazer."
Na manhã desta sexta, Trump ainda celebrava a conquista na Câmara. No fim de março, ele havia recuado e pedido que a liderança republicana desistisse da votação na casa por não ter os 216 votos para passar o texto, apesar do partido ter 237 assentos.
"Grande vitória na Câmara –muito empolgante!", escreveu. No dia anterior, disse estar confiante de que o Senado aprovará o texto. "Temos vários grupos, mas todos eles se uniram", afirmou.
Os números, porém, não confirmam isso. De fato, o governo Trump —em especial, seu chefe de gabinete, Reince Priebus— conseguiu convencer pelo menos 15 membros da bancada mais conservadora "Caucus da Liberdade" a mudarem sua posição e votarem a favor do texto.
No entanto, 20 republicanos —mais moderados, em sua maioria— ainda se alinharam com os democratas contra o projeto.
PREOCUPAÇÕES
Não se sabe o quanto o texto do Senado se parecerá com o que foi aprovado com só um voto a mais que o necessário na Câmara. Alguns pontos, porém, certamente serão revistos. Entre eles, está a falta de garantia de plano de saúde para pessoas com doenças preexistentes.
Outro item que preocupa republicanos moderados é a concessão feita por Trump aos deputados do "Caucus da Liberdade" que tira a obrigatoriedade de planos oferecerem "benefícios essenciais", como atendimentos emergenciais e cuidado pré-natal.
É, porém, o impacto do texto aprovado sobre o Medicaid (programa público para os mais pobres), que mais enfrenta resistência, especialmente entre os republicanos de Estados que expandiram a cobertura do programa nos últimos anos, sob o Obamacare.
O "Trumpcare", como vem sendo chamada a lei republicana, prevê a redução dos recursos federais para que os Estados ampliem a cobertura pelo Medicaid —e seu corte total a partir de 2020.
"Não podemos puxar o tapete de Estados como Nevada, que expandiu o Medicaid, e precisamos de garantias de que as pessoas com doenças preexistentes estarão protegidas", disse o senador republicano Dean Heller, que disputará a reeleição para o posto de Nevada em 2018, ao "New York Times". Os republicanos ocupam 52 dos cem assentos no Senado, e qualquer voto do partido será fundamental na soma final.
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