Das profundezas do Atlântico, relíquias do Titanic rumam para leilão

ELIZA RONALDS-HANNON
DA BLOOMBERG NEWS

O Titanic pode estar embaixo de 4.000 metros de água, mas os restos do malfadado navio poderão alcançar perto de US$ 220 milhões (cerca de R$ 720 milhões) neste ano.

A Premier Exhibitions Inc. propôs a venda em um pedido feito em 18 de maio ao Tribunal de Apelação de Jacksonville, na Flórida. A empresa, sediada em Atlanta, na Geórgia, e sua unidade RMS Titanic Inc. pediram concordata em junho, em meio a uma disputa pelos artefatos que ela recuperou do navio com a ajuda do governo francês.

Mais de 1.500 pessoas morreram em abril de 1912 quando o Titanic, o maior navio de passageiros da época, bateu em um iceberg e afundou em sua viagem inaugural de Southampton, no Reino Unido, para Nova York. Os destroços só foram localizados em 1985.

Em um artigo de 2008 na "National Geographic News", o oceanógrafo Robert Ballard descreveu como encontrou o navio enquanto ajudava a Marinha dos EUA a investigar submarinos afundados. A partir de 1987, a Premier Exhibitions trabalhou com o governo francês em dezenas de mergulhos para recuperar artefatos como joias, roupas, porcelanas e talheres do túmulo aquático do navio.

A Premier reiniciou a caça ao tesouro em 1993 sem a participação da França, e posteriormente foi considerada "resgatador em posse" do sítio, segundo uma decisão regulatória. A companhia e o governo francês continuaram disputando os direitos dos itens resgatados até que, no ano passado, um juiz de falências recusou as tentativas da França para estabelecer seu interesse.

No ano passado, a Premier exibiu uma seleção de objetos em Las Vegas, entre eles um par de pijamas masculinos listrados azul e branco, um recibo de viagem de "um canário em uma gaiola" e um par de luvas brancas sem uso.

A coleção combinada de 5.500 artigos tem um valor de mercado estimado em US$ 218 milhões, segundo uma avaliação de 2014 incluída no processo.

Artefatos do Titanic foram alvo de intenso interesse no passado. Um casaco de pele usado por uma camareira da primeira classe que fugiu do naufrágio saiu pelo equivalente a US$ 235 mil (cerca de R$ 770 mil) neste ano no Reino Unido, e um biscoito do kit de sobrevivência do bote salva-vidas foi vendida por aproximadamente US$ 23 mil (R$ 75 mil), segundo a casa de leilões Henry Aldridge & Son.

A Premier disse em documentos judiciais que, com a aprovação do credor, ela venderá as relíquias do Titanic e tentará definir um lance inicial para o leilão, marcado provisoriamente para novembro. Ainda não foi definido se as peças serão vendidas em separado. O tribunal de falências deve aprovar qualquer venda.

A legislação federal pendente pode aumentar o preço dos artigos que a Premier deseja vender. Uma cláusula proposta na Lei de Apropriações do Congresso de 2017 proibiria qualquer exploração do Titanic não aprovada pelo secretário do Comércio, o que pode significar a suspensão de novos mergulhos nos próximos vários anos.

Enquanto isso, bactérias descobertas nos destroços podem estar acelerando sua desintegração, segundo um relatório da Unesco de 2011 sobre a pesquisa. Afinal, os artefatos da Premier poderão ser os últimos a ser vendidos.

Os credores têm a receber mais de US$ 10 milhões, segundo documentos judiciais. A venda poderá levantar dinheiro suficiente para indenizá-los e também oferecer aos acionistas uma amortização, tornando o destino da RMS Titanic Inc. muito mais feliz que o do navio homônimo.

O processo da RMS Titanic Inc. Tem o número 16-02230 no Tribunal de Falências do Distrito Médio da Flórida (Jacksonville).

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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