Objetivo do terror é dividir e permitir a vitória do ódio, afirma analista
Jon Super/Reuters | ||
Mensagens e flores são deixadas na St.Ann Square, em Manchester, em homenagem às vítimas |
Cada atentado terrorista é único. Diferentes vítimas, datas, endereços, circunstâncias. Mas há constantes entre ataques como o de Manchester, ocorrido nesta semana, e outros episódios — Oslo, Paris, Bruxelas, Nice, Berlim.
Uma delas é a intenção de dividir a sociedade e permitir a vitória do discurso do ódio. "Eles querem enfraquecer nosso respeito pelos direitos e liberdades fundamentais", diz à Folha H. A. Hellyer.
Hellyer é analista sênior no Royal United Services Institute, influente think tank britânico de segurança, e no Atlantic Council. Ele é autor de obras como "Muçulmanos da Europa: Os Outros Europeus", publicado pela Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Outro fator recorrente é a repetição do argumento de que muçulmanos têm a obrigação de condenar em público os atentados, como se fossem em parte responsáveis. Essa ideia, diz Hellyer, é incentivada pelo discurso dos intelectuais.
"Nossos líderes políticos e culturais precisam ser bastante claros ao dizer que os componentes ideológicos do extremismo são interpretações distorcidas do islã."
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Folha - O sr. mencionou, em um artigo, a necessidade de escolhermos entre permitir ou não que terroristas vençam. Mas como uma sociedade toma essa decisão?
H. A. Hellyer - Parte do objetivo dos terroristas é dividir nossas comunidades e permitir que o discurso do ódio de ambos os lados vença. Precisamos garantir que isso não aconteça. Outro dos objetivos é fazer com que nosso modo de vida mude para além do que é absolutamente necessário para nos proteger. Querem enfraquecer nosso respeito pelos direitos e liberdades fundamentais. Temos que rejeitar a tentação de fazer isso.
Mais uma vez ouvimos que os muçulmanos deveriam fazer alguma coisa para prevenir esse tipo de atentado. Por que essa narrativa é tão recorrente?
Essa narrativa não é acidental. Ela é empurrada e incentivada por membros de alto escalão de nossa "intelligentsia", recorrendo aos nossos instintos mais básicos e aos nossos sentimentos mais populistas e tribais.
Como mudar isso?
É simples. Nossos líderes políticos e culturais precisam ser bastante claros ao dizer que os componentes ideológicos do extremismo são interpretações heterodoxas e distorcidas do islã. Elas não são seguidas nem por uma subfração das comunidades muçulmanas. Nós estamos todos juntos nessa situação, lutando contra a mesma escória.
Matar pessoas durante um show para jovens é um novo ponto baixo ao terror?
Não. Anders Behring Breivik matou jovens, e muito mais do que na segunda-feira (22) [foram 77 vítimas na Noruega em 2011. Breivik era um terrorista de extrema direita].
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TERROR NA EUROPA
Ataques recentes aos países do continente
Paris (13.nov. 2015)
Uma sequência de ataques a bomba e com atiradores em várias partes da cidade deixa 130 mortos. Estado Islâmico reivindica autoria
Bruxelas (22.mar.2016)
Três homens-bomba ligados ao EI se explodem no aeroporto e numa estação de metrô; 32 morrem
Nice (14.jul.2016)
No Dia da Bastilha, em mais uma ação do EI, um atirador dirigindo um caminhão atropela uma multidão à beira-mar e mata 86
Berlim (19.dez.2016)
Em ação semelhante à de Nice, motorista avança com um caminhão contra pedestres em um mercado de Natal; 12 são mortos
Londres (22.mar.2017)
Um ano após os ataques de Bruxelas, um homem atropela pedestres na ponte Westminster e esfaqueia um policial na entrada do Parlamento; 5 morrem
Estocolmo (7.abr.2017)
Novamente, um caminhão é usado para atropelar pedestres, em uma rua comercial, deixando 4 mortos
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