Republicanos criam distância segura de Trump após revelações sobre russos

Crédito: Jonathan Ernst - 10.nov.2016/Reuters U.S. President-elect Trump (2nd R), his wife Melania Trump (R), Vice President-elect Mike Pence (4th R) and Senate Majority Leader Mitch McConnell (R-KY) (3rd R) walk together to meet in McConnell's office at the U.S. Capitol in Washington, U.S. November 10, 2016. REUTERS/Jonathan Ernst ORG XMIT: WAS901
Trump e o líder republicano no Senado, McConnell (2º à esq.), que pediu 'menos drama' à Casa Branca

ISABEL FLECK
DE WASHINGTON

A defesa de Donald Trump e de seu genro e assessor, Jared Kushner, após três semanas de crise sobre as ligações entre a equipe do presidente e a Rússia, sobrou, neste domingo (28), para os membros do gabinete de Trump, como os secretários John Kelly, de Segurança Doméstica, e James Mattis, de Defesa.

Nas bancadas dos programas dominicais das emissoras americanas, não havia nenhum líder ou nome expressivo do Partido Republicano disposto a associar sua imagem à do presidente no momento de crise.

A ausência sinaliza um afastamento que se acentuou após a imprensa revelar que Trump teria tentado obstruir uma investigação federal sobre o ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn.

Desde então, republicanos que ainda vinham evitando se posicionar sobre o caso envolvendo o ex-diretor do FBI (polícia federal americana) James Comey e a investigação sobre a Rússia, começaram a delimitar uma distância segura do presidente, de olho em seu eleitorado.

Para muitos, é hora de pensar no impacto que teria uma defesa de Trump nas eleições parlamentares de novembro de 2018. Esta semana, em que os parlamentares cumprem expediente em seus Estados, servirá como termômetro na relação com os eleitores.

Pesquisas já dão alertas. Uma da Reuters/Ipsos feita entre 14 e 18 de maio mostra que a aprovação de Trump entre os eleitores republicanos caiu de 87%, em janeiro, para 75%. Noutra, da Fox News, divulgada na quinta (25), o apoio foi de 87% a 81%.

"A divulgação do memorando de Comey [que sugere a obstrução da investigação] coloca os republicanos em um terreno desconfortável e sinaliza que os membros do partido devem ser cuidadosos ao defender o comportamento de Trump abertamente", afirma David Hopkins, cientista político do Boston College.

Em meio à onda de escândalos, o geralmente cauteloso líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, admitiu que seria bom ter "um pouco menos de drama" vindo da Casa Branca.

McConnell tenta chegar a um difícil consenso com os senadores republicanos sobre um projeto para substituir o Obamacare. As revelações, com vazamentos quase diários, só atrapalham a agenda do partido na Casa.

"Não podemos ter esse caos constante e questões graves sendo virtualmente levantadas todo santo dia. É uma distração da nossa capacidade de trabalhar em certos temas, como a reforma da saúde", disse a senadora republicana Susan Collins, do Maine.

Uma parte dos republicanos, como os deputados Justin Amash (Michigan) e Carlos Cubelo (Flórida), foi a público para pedir esclarecimentos sobre a suposta tentativa de Trump de influenciar a investigação. Para eles, se for comprovada, a denúncia traz razões suficientes para um pedido de impeachment.

Após um processo eleitoral atípico –e diante da figura polarizadora do empresário–, o apoio de Trump entre os parlamentares do partido sempre esteve longe do esperado para um presidente em início de mandato. Agora, no entanto, a oposição começou a ser feita diante das câmeras.

Para John Sides, cientista politico da George Washington University, o movimento não é orquestrado. "O memorando fez com que diferentes republicanos expressassem diferentes níveis de preocupação, mas eu não vejo uma divisão por grupos", diz.

Da manifestação pública para um apoio a um processo de impeachment, porém, há um longo caminho a ser percorrido, apostam os especialistas ouvidos pela Folha.

"Não há razão para acreditar que os republicanos se moverão para apoiar o impeachment de Trump", diz Hopkins. "Eles esperam que ele sobreviva a essa controvérsia."

Todos os rolos do presidente

Ex-conselheiro de Segurança Nacional, renunciou depois de a imprensa revelar que ele mentiu ao vice-presidente Pence sobre os contatos que manteve com o embaixador russo nos EUA

Flynn também é suspeito de ter recebido pagamentos dos governos russo e turco por lobby; por ser um ex-integrante do Exército, a lei impede que Flynn aceite pagamentos de estrangeiros

James Comey

Crédito: 3.mai.2017/Xinhua O ex-diretor do FBI, James Comey, testemunha no Senado no último dia 3
O ex-diretor do FBI, James Comey, testemunha no Senado no último dia 3

O ex-diretor do FBI liderava investigação sobre o elo entre auxiliares de Trump com a Rússia; dias antes de ser demitido, ele havia pedido mais recursos para a apuração

Ele foi demitido por Trump no último dia 9; a Casa Branca afirmou que o presidente seguiu recomendação do secretário e do vice-secretário da Justiça

Dois dias depois, o "New York Times" afirmou que, em um jantar em janeiro, Trump pediu a "lealdade" de Comey, que respondeu prometendo "honestidade"

Na terça (16), o "NYT" revelou que Trump pediu a Comey, em fevereiro, que encerrasse a investigação sobre Flynn; o registro do pedido estaria em um memorando escrito por Comey

Informações para os russos

Crédito: Russian Foreign Ministry via AP This handout photo released by the Russian Ministry of Foreign Affairs, shows President Donald Trump meeting with Russian Foreign Minister Sergey Lavrov in the Oval Office of the White House in Washington, Wednesday, May 10, 2017. The Washington Post is reporting that Trump revealed highly classified information about Islamic State militants to Russian officials during a meeting at the White House last week. The newspaper cites current and former U.S. officials who say Trump jeopardized a critical source of intelligence on IS in his conversations with the Russian foreign minister and the Russian ambassador to the U.S. They say Trump offered details about an IS terror threat related to the use of laptop computers on aircraft.(Russian Foreign Ministry via AP) ORG XMIT: WX111
Trump e o chanceler russo, Sergei Lavrov, em encontro na Casa Branca, no dia 10

Também nesta semana, o "Washington Post" informou que Trump teria revelado informação confidencial ao chanceler russo, Sergei Lavrov, em uma conversa na semana passada, na Casa Branca

A informação sobre uma ameaça do Estado Islâmico teria sido repassada sem a permissão da fonte (Israel, segundo o "NYT"), e poderia comprometer a segurança de um colaborador dos EUA na região

Trump reagiu dizendo que tem o "direito absoluto" de compartilhar informações com a Rússia; a Casa Branca alegou que os dados não eram secretos

O presidente Putin disse nesta quarta (17) que poderia fornecer a transcrição da conversa entre Trump e Lavrov se os EUA autorizarem

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