Descrição de chapéu The New York Times

Proposta por Trump, revisão de armas nucleares sairá mais cara que previsto

JAMES GLANZ
DAVID E. SANGER
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Quando o presidente Barack Obama terminou seu mandato, em janeiro, deixou uma decisão importante para o governo Trump tomar: se levaria adiante um programa de 30 anos e US$ 1 trilhão para reformar as armas atômicas dos Estados Unidos, assim como seus bombardeiros, submarinos e mísseis disparados do solo.

O presidente Donald Trump prometeu reformar o arsenal, que ele chamou de obsoleto. Mas seu desafio está crescendo: a primeira estimativa oficial do governo sobre o projeto, preparada pelo Escritório de Orçamento do Congresso e que deverá ser publicada nas próximas semanas, estimará o custo em mais de US$ 1,2 trilhão –20% além do número imaginado pelo governo Obama.

"Não há maneira de economizar dinheiro para o país que não nos ponha em risco", disse Tom Collina, diretor de políticas do Ploughshares Fund, uma organização independente que defende o controle das armas nucleares, "porque muitos elementos desse programa são excessivos, redundantes e perigosos".

Collina chamou a estimativa do Escritório de Orçamento de "muito verossímil" e coerente com cálculos anteriores do custo do programa.

Conforme a iniciativa de Obama passa a ser a de Trump, "haverá uma reação", especialmente entre democratas que apoiavam o programa, segundo Jon B. Wolfsthal, que supervisionou questões nucleares na Casa Branca de Obama. Ele falou em um debate em 23 de maio sobre o assunto, organizado pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington.

Outros especialistas nucleares afirmam que os perigos de não realizar uma atualização completa superam em muito os custos. "Isso é algo que temos de decidir que está na hora de investirmos, e temos de seguir em frente", disse no mesmo evento C. Robert Kehler, um general aposentado da Força Aérea e ex-comandante do Comando Estratégico dos EUA.

Uma reformulação de uma ogiva carregada por bombardeiros americanos, chamada B-61, está quase em produção, mas a maioria dos programas que o governo Obama implementou continuam sobretudo na fase de desenvolvimento. Os custos muito maiores de produzir as armas e sistemas de lançamento só viriam em 2020 ou 2021.

O aumento acentuado dos custos nos próximos anos quase certamente obrigará o Congresso a escolher quais programas são mais importantes para os militares, disse Weber. "O que está claro é que você economiza mais eliminando programas do que comprando menos de alguma coisa", disse ele.

Os críticos questionaram a necessidade não apenas do míssil com ogiva nuclear, mas também do desenvolvimento de um conjunto de "ogivas interoperáveis" que poderiam ser disparadas de mísseis balísticos intercontinentais ou de mísseis lançados por submarinos. A vida útil dessas armas poderia ser prolongada sem a versão interoperável, segundo críticos.

Outros, como William J. Perry, que foi secretário da Defesa do presidente Bill Clinton, pediram uma reformulação mais ampla do dissuasor nuclear. Perry pediu a eliminação de uma perna da "tríade nuclear", que consiste em sistemas de lançamento nuclear terrestres, aéreos e submarinos. Ele afirmou que os EUA ainda estariam seguros e economizariam bilhões de dólares sem os mísseis intercontinentais.

"Simplesmente não precisamos reconstruir todas as armas que tínhamos durante a Guerra Fria", escreveu Perry recentemente em uma publicação da Ploughshares.

Em contraste, Kehler afirmou que a tríade deve ser mantida, porque representa problemas quase insuperáveis para qualquer adversário. "No século 21, infelizmente, essas armas ainda existem", disse ele, "e na minha humilde opinião existirão no mundo futuro até onde podemos enxergar."

Traduzido por LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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