Descrição de chapéu The New York Times

Arábia Saudita passará a oferecer aulas de educação física para meninas

BEN HUBBARD
DO "NEW YORK TIMES", EM BEIRUTE

O islã permite que as meninas joguem pega-pega? E futebol?

Essas perguntas de repente se tornaram pontos de política pública na Arábia Saudita, conforme as escolas públicas do reino ultraconservador se preparam, pela primeira vez na história, para oferecer educação física para meninas.

O Ministério da Educação saudita disse na terça-feira (11) que as atividades físicas para meninas começarão no próximo ano acadêmico, marcando um ligeiro abrandamento das regras em um país que há muito tempo tem um dos ambientes mais restritivos para as mulheres.

O anúncio não explicou que atividades serão oferecidas, mas disse que serão introduzidas gradualmente e "de acordo com as regras da sharia", a lei islâmica.

Por causa das tradições do reino desértico e da estrita interpretação do islã, as mulheres na Arábia Saudita devem cobrir os cabelos e os corpos em público e são proibidas de dirigir carros, viajar ao exterior e submeter-se a certos tratamentos médicos sem a permissão de um guardião —geralmente o pai, o marido ou mesmo um filho.

Isso significa que não há autoescolas para mulheres.

Essas limitações também se aplicavam aos esportes para mulheres, a que os conservadores se opõem por vários motivos. Alguns são contra os trajes esportivos femininos, temendo que elas se acostumem a vesti-los e percam o recato. Outros afirmam que os esportes vão contra a "natureza" feminina ou fazem as mulheres desenvolverem músculos que as deixam parecidas com os homens.

"Tudo tem a ver com a ideia de proteger a feminilidade da mulher", disse Hatoon al-Fassi, uma acadêmica saudita que estuda a história do gênero feminino. Ela e outras ativistas pelos direitos das mulheres elogiaram a decisão de oferecer novas possibilidades às meninas do reino.

"Essa decisão é importante, especialmente para as escolas públicas", disse Fassi. "É essencial que as meninas de todo o reino tenham a oportunidade de formar seus corpos, cuidar deles e respeitá-los."

O progresso em direção à educação física feminina foi lento nesse país, onde a abertura das primeiras escolas para meninas, há meio século, provocou protestos.

As escolas continuam segregadas por gêneros. Nas últimas décadas houve um aumento na frequência às universidades conforme surgiram em todo o reino faculdades exclusivamente femininas.

A Arábia Saudita autorizou pela primeira vez o esporte para meninas em escolas privadas há quatro anos, mas as garotas cujas famílias permitiam se exercitavam e praticavam esportes em locais privados.

Em 2012, o reino incluiu duas atletas mulheres em sua delegação aos Jogos Olímpicos de Londres, depois que o Comitê Olímpico Internacional sugeriu que o país poderia ser impedido de participar se enviasse apenas homens.

Em 2016, ele mandou quatro mulheres ao Rio de Janeiro, e a princesa Reema bint Bandar al-Saud foi nomeada vice-presidente da Autoridade Geral Esportiva, dando às atletas uma defensora de destaque.

O Ministério da Educação disse que a decisão de oferecer ginástica para as meninas faz parte da Visão Saudita 2030, um plano para o futuro do reino definido no ano passado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.

O plano, que pretende diversificar a economia saudita e tornar a vida no país mais aprazível para os cidadãos, apela para que 40% dos sauditas se exercitem pelo menos uma vez por semana. O número atual, segundo o plano, é 13%.

Mas o reino ainda enfrenta desafios para instalar classes de educação física em sua grande rede de escolas públicas. As universidades sauditas não formam professoras dessa disciplina, e a maioria das escolas femininas não tem instalações esportivas.

"É muito difícil, porque você tem de começar do zero", disse Fassi.

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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