A equipe de advogados do presidente Donald Trump está avaliando possíveis conflito de interesses da parte de membros da equipe de investigação do procurador especial Robert Mueller, de acordo com três pessoas informadas sobre o assunto.
A revelação surge em um momento no qual parece provável que a investigação de Mueller sobre a influência da Rússia na eleição de 2016 venha a incluir algumas das conexões comerciais da família Trump.
O advogado Jay Sekulow, que faz parte da equipe de advogados externa de Trump, disse à agência de notícias Associated Press (AP) nesta quinta-feira (20) que os advogados "avaliarão coerentemente a questão dos conflitos, e a levarão ao conhecimento das instâncias apropriadas".
Duas das pessoas informadas sobre a questão dizem que esses esforços incluem investigar as afiliações políticas dos investigadores de Mueller e seu histórico de trabalho.
Trump está cada vez mais frustrado com as investigações, que ameaçam fazer sombra ao seu governo por meses ou até anos. Em entrevista ao "New York Times" na quarta-feira (19), Trump advertiu Mueller que investigar as conexões financeiras da família Trump seria uma "violação".
Mueller tem amplos poderes, no comando da investigação federal. Ele está autorizado a investigar a interferência da Rússia na eleição, quaisquer possíveis conexões entre a direção de campanha de Trump e essa interferência, e qualquer outro assunto que derive dessas investigações.
Sekulow disse à AP que o presidente "não havia recebido qualquer indicação" do procurador especial de que ele esteja sendo investigado pessoalmente.
Sarah Huckabee Sanders, porta-voz da Casa Branca, disse que Trump não tinha intenção de demitir Mueller "no momento", mas não descartou a possibilidade de que isso viesse a acontecer no futuro.
Ela reiterou a preocupação de Trump sobre o escopo da investigação de Mueller, dizendo que ela deveria "se restringir à interferência, interferência russa, e nada além disso".
O deputado Adam Schiff, da Califórnia, que comanda a bancada democrata no Comitê de Inteligência da Câmara, disse que Mueller tinha autorização para investigar quaisquer conexões entre a família Trump e a Rússia, "incluindo conexões financeiras e qualquer coisa relacionada a isso. Esse é o dever dele".
A campanha da Casa Branca contra a investigação comandada pelo promotor especial surge no momento em que as linhas gerais do inquérito se tornam claras.
A agência Bloomberg reportou que os investigadores de Mueller estão estudando transações de negócios entre Trump e os russos, entre as quais compras de apartamentos em seus edifícios, um controvertido projeto imobiliário em Nova York, a venda multimilionária de uma casa na Flórida, e o concurso de beleza Miss Universo 2013, realizado em Moscou.
O jornal "New York Times" reportou que investigadores federais estão conversando com o Deutsche Bank sobre a obtenção de registros financeiros de Trump, e que o banco antecipa que terá de fornecer informações a Mueller.
O Deutsche Bank vinha sendo uma das poucas instituições financeiras de grande porte dispostas a fazer empréstimos regulamente a Trump, que antagonizou os grandes bancos de Nova York por seus passados problemas financeiros e comportamento belicoso como devedor.
Ao longo dos anos, o banco emprestou bilhões de dólares a Trump, e empréstimos cujo valor inicial era de US$ 300 milhões ainda não foram pagos.
Mas emprestar a Trump nem sempre foi fácil para o Deutsche Bank. Em 2008, ele abriu um processo em valor de US$ 3 bilhões contra o banco, depois de um calote contra a instituição em um empréstimo para a Trump Tower de Chicago, usando uma teoria legal inovadora de que ele não deveria ser responsabilizado pelo seu contrato devido ao envolvimento do Deutsche Bank na crise financeira mais ampla.
Isso levou o banco a fazer algumas concessões a Trump quanto ao empréstimo, mas o processo prejudicou o relacionamento entre ele e a divisão de empréstimos comerciais da instituição.
Depois disso, o relacionamento entre o Deutsche Bank e Trump passou a ser coordenado por Rosemary Vrablic, da divisão de patrimônio pessoal do banco.
Outro desdobramento da crise envolve o financista nova-iorquino Anthony Scaramucci, que está sendo avaliado como possível diretor de comunicações do governo Trump, de acordo com duas pessoas que conhecem a situação e falaram sob a condição de que seus nomes não fossem mencionados, porque estão discutindo deliberações internas.
Scaramucci defende o presidente com frequência na televisão, e era presença constante na Trump Tower no período de transição anterior à posse de Trump.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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