Sob o clarão do míssil, Coreia do Norte embeleza 'hotel-pirâmide'

DA ASSOCIATED PRESS, EM PYONGYANG

Enquanto o segundo lançamento pela Coreia do Norte de um míssil balístico intercontinental dominava as manchetes, na semana passada, Pyongyang silenciosamente revelou reformas em torno do maior marco físico da capital: um hotel futurista de 105 andares, em forma de pirâmide, o mais alto edifício desocupado do mundo.

Depois de décadas de atrasos embaraçosos e rumores de que o prédio pode não ser estruturalmente sólido, poderia este ser o próximo projeto favorito de Kim Jong-un?

No mínimo, é um novo cartaz de propaganda: "A poderosa nação dos foguetes".

Muros erguidos para manter as pessoas fora de um canteiro de obras em torno do gigantesco Ryugyong Hotel foram derrubados enquanto o Norte marcava o aniversário do armistício na Guerra da Coreia. Revelaram-se dois novos calçadões que levam ao prédio e à grande placa vermelha de propaganda que declara a Coreia do Norte uma importante potência de foguetes.

Esse, é claro, é o outro projeto favorito de Kim.

Um dia depois do aniversário na quinta-feira (27), a Coreia do Norte testou seu segundo míssil intercontinental Hotel (ICBM na sigla em inglês), e especialistas acreditam ter demonstrado que as armas do Norte hoje podem teoricamente alcançar a maior parte dos EUA.

Durante mais de uma semana antes do aniversário, um grande feriado na Coreia do Norte, "construtores-soldados" no local no centro de Pyongyang eram claramente vistos atrás dos muros, juntamente com equipamento pesado para escavar e cartazes coloridos de propaganda que são uma marca dos canteiros de obras no país, destinados a reforçar o moral.

Rumores, quase sempre infundados, de planos para finalmente terminar o hotel são uma espécie de jogo de salão entre os observadores de Pyongyang. E resta ver se o trabalho atual no Ryugyong se destina a ser um passo na direção de realmente concluir o antigo projeto, ou, mais provavelmente, um esforço para fazer melhor uso do terreno ao seu redor.

Não é de surpreender que o trabalho para fazer algo com o marco inútil comece, porém. Pyongyang vem passando por reformas maciças desde que Kim assumiu o poder, após a morte de seu pai no final de 2011.

Sob ordens dele, várias áreas com grande edifícios foram concluídas, incluindo um prédio residencial de 70 andares e dezenas de outros edifícios elevados no bairro de Ryomyong, ou "Alvorada", na capital, em abril.

Pyongyang também tem um novo aeroporto internacional, um enorme complexo tecnológico com um prédio principal em forma de átomo, e muitas outras instalações de lazer e educação.

Como Kim pode pagar pelo aparente apogeu de construção e seus testes acelerados de mísseis que custam milhões de dólares é um mistério, mas levou muitos defensores das sanções a acusar a China, de longe o maior parceiro comercial da Coreia do Norte, por não fazer o suficiente para apertar as condições econômicas dadas a seu vizinho.

À distância, o prédio de vidro verde-azulado do Ryugyong parece pronto para funcionar. Mas acredita-se que esteja longe de pronto por dentro e possivelmente até seja estruturalmente frágil.

O trabalho no edifício começou em 1987, quando o avô de Kim, Kim Il-sung, fundador da Coreia do Norte e "presidente eterno", ainda vivia. Ele deveria ser inaugurado em 1989 e teria sido o hotel mais alto do mundo —ultrapassando outro em Cingapura que foi construído por uma empresa sul-coreana.

Mas uma grave crise econômica e penúria nos anos 1990 deixaram a Coreia do Norte sem condições de injetar fundos na construção do hotel, e ele ficou uma casca de concreto embaraçosa durante mais de uma década, até que o grupo Orascom do Egito —que também foi chave para estabelecer o sistema de telefonia celular na Coreia do Norte— ajudou a pagar pelo trabalho para se concluir o exterior reluzente do prédio, em 2011.

Ficam perguntas sobre se ele é estruturalmente sólido o suficiente para funcionar como hotel ou prédio de escritórios.

Autoridades não deram informações sobre planos para seu futuro.

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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