Crítica de Trump ao Paquistão pode gerar tensão no sul da Ásia

IGOR GIELOW
DE SÃO PAULO

Se foi bem genérico ao falar sobre a sua nova linha de ação para o Afeganistão, Donald Trump arriscou-se a provocar um terremoto geopolítico no sul da Ásia.

Ao criticar duramente o comprometimento do Paquistão no combate ao terror e instar a Índia a participar da recuperação econômica do Afeganistão, o presidente selou uma tomada de lado que vinha se desenhando há alguns anos.

Outros mandatários criticaram o país asiático, notadamente Barack Obama, mas o tom de ultimato é uma novidade –se é para valer, diante da promessa de colaboração que deverá vir de Islamabad, isso é outra história.

Desde que emergiram da partilha da antiga Índia britânica, em 1947, Índia e Paquistão lutaram três guerras.

Após atacar o Afeganistão em 2001, Washington buscou atrair Islamabad. O então ditador Pervez Musharraf recebeu US$ 4 bilhões em ajuda até 2009, quando o governo civil foi reinstalado. De lá para cá, mais US$ 6 bilhões foram enviados.

Mesmo assim, as áreas sem lei junto à fronteira afegã continuaram abrigando grupos terroristas islâmicos de matizes variadas.

Não que o Exército paquistanês não tenha lutado. A "guerra ao terror" no país desde 2001 matou 31 mil terroristas, 22 mil civis e 8 mil membros de forças de segurança, segundo dados compilados pela Universidade Brown (EUA).

Mas Islamabad sempre apoiou algumas das organizações, utilizando-as como ponta de lança na sua disputa com a Índia pela região da Caxemira. O próprio Taleban foi uma criação sua.

O fato de que o terrorista Osama bin Laden foi morto pelos EUA em solo paquistanês em 2011 cristalizou a desconfiança.

O aceno de Trump à Índia concretiza um dos piores pesadelos dos paquistaneses, o de ver o Afeganistão aliado ao seu maior rival.

Isso deverá acelerar o processo já em curso de alinhamento do Paquistão à China, que investe em infraestrutura no vizinho visando montar um corredor para suas exportações pelo oceano Índico.

Para completar, a fala de Trump ocorre num momento de acefalia política no Paquistão: a Justiça destituiu o premiê do país no mês passado.

Crédito: PRESENÇA NO AFEGANISTÃOPrevisão de retirada americana do país era em 2016; ocupação já dura 16 anos
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