México registra a décima morte de jornalista no ano

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

O repórter Candido Ríos foi assassinado na tarde de terça (22) em Covarrubias, no Estado de Veracruz, aumentando o número de jornalistas mortos no México em 2017 para dez.

Desde 2000, foram mortos mais de cem profissionais de imprensa no país, tido pela SIP (Sociedade Interamericana de Prensa) como o mais perigoso para o exercício da profissão na região.

Ríos, 55, estava num programa de proteção a jornalistas ameaçados. Escrevia para o "Diario de Acayucan" e, desde 2016, vinha publicando reportagens sobre o envolvimento de autoridades locais com o narcotráfico.

O diretor do jornal, Cecilio Perez, disse que o repórter recebera ameaças por telefone de prefeitos da região e que fora detido algumas vezes. Numa delas, teria sido agredido na prisão.

Segundo a ONG Article 19, que reúne dados sobre crimes contra a imprensa, houve aumento de 23% das agressões a jornalistas em 2017 na comparação com 2016. De janeiro a junho, foram registrados 276 ataques, ou um jornalista agredido a cada 15,7 horas.

A maioria dos crimes visa repórteres do interior, que alimentam os grandes jornais da capital de informações sobre a guerra ao narcotráfico.

Além do alto saldo de mortos, 2017 também tem sido marcado pelo avanço contra jornalistas famosos, como Miroslava Breach, de Chihuahua, baleada diante da filha, e Javier Valdez, de Sinaloa, autor de livros sobre as relações do poder com o tráfico.

"O que esses crimes têm em comum é a impunidade, e é por isso que seguem ocorrendo", disse à Folha Oscar Cantú, ex-diretor do jornal "El Norte", que deixou de circular após a morte de Breach, sua colaboradora, em março.

CUSTO POLÍTICO

A menos de um ano da eleição presidencial que escolherá o sucessor de Enrique Peña Nieto, o aumento da violência no país, e em especial no Estado de Veracruz, preocupa o partido do presidente, o PRI (Partido Revolucionário Institucional), que busca um nome para a disputa (no México não há reeleição).

Relatório do Sistema Nacional de Segurança Pública aponta aumento de 31% dos homicídios no primeiro semestre, em relação a 2016.

Peña Nieto conseguira que os crimes relacionados ao tráfico caíssem, mas, no último ano, a tendência inverteu.

O aumento da violência em Veracruz superou o de outros Estados, crescendo 158% sob o governador Javier Duarte (2010-16), do PRI. Em seu mandato aumentaram as mortes de jornalistas e se encontraram as mais numerosas valas comuns do país —uma delas com 254 corpos.

A ONG International Crisis Group passou a chamar Veracruz de "Estado do terror".

Acusado de desviar US$ 12 milhões de obras públicas, Duarte deixou o cargo três meses antes do fim do mandato e fugiu do país, o que levou o partido a expulsá-lo.

Após seis meses de investigação, o político foi achado num resort numa praia da Guatemala e extraditado. Preso, espera julgamento.

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