Vice dos EUA, Pence ofusca visita de Trump a área inundada no Texas

ISABEL FLECK
DE WASHINGTON

Ao visitar áreas devastadas pelo furacão Harvey em Rockport, no Texas, na quinta-feira (31), o vice-presidente Mike Pence ajudou a carregar galhos e parte do tronco de uma árvore que caiu sobre uma casa e abraçou e conversou com moradores que tiveram suas propriedades destruídas pela enchente.

Foi tudo o que o presidente Donald Trump não fez ao passar, dois dias antes, pelo Texas. Neste sábado (2), ele terá a oportunidade de mostrar uma resposta mais "humana" após as comparações entre as duas abordagens.

Trump conversou com autoridades locais e com os agentes responsáveis pelos esforços de resgate, e fez duas declarações -numa delas, destacando a "multidão" que tinha ido até lá para vê-lo.

Os principais jornais e redes de TV, como CNN e MSNBC, porém, não pouparam o presidente por não ter tido contato direto com as vítimas. Trump também não foi às áreas mais afetadas —para, segundo ele, não atrapalhar esforços de recuperação.

Nem a primeira-dama escapou: o site Politico criticou o salto agulha usado por Melania ao embarcar rumo ao Texas (ela depois desceria do avião calçando tênis) e foi seguido por outros sites.

Inevitavelmente ofuscando Trump, Pence evocou o presidente em sua fala: "Telefonei para o presidente do Air Force Two nesta manhã e perguntei o que ele queria que eu falasse para vocês. Ele me disse: 'Só diga a eles que amamos o Texas'".

No início de agosto, Pence classificou como "ofensiva" uma reportagem do "New York Times" que afirmava que o vice se movimentava para concorrer à Presidência em 2020 se Trump não disputasse a reeleição. Desde então, vem sempre demonstrando seu apoio ao presidente.

No meio virtual, Trump não tem economizado tuítes para apoiar as equipes de resgate e as vítimas do Harvey: foram 28 desde a sexta passada (25).

O presidente também prometeu doar US$ 1 milhão de seu "dinheiro pessoal" para ajudar as vítimas, mas a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, não soube responder se o valor viria da Fundação Trump, organização filantrópica criada pelo empresário. Em 2016, o "Washington Post" publicou que Trump não repassava dinheiro para sua própria fundação desde 2008.

O impacto político do Harvey não foi sentido apenas na Casa Branca. No Congresso, que retomará suas atividades após o recesso de verão na próxima semana, o furacão mudará os rumos da discussão sobre o Orçamento de 2018 e o teto da dívida.

A proposta que seria discutida a partir de terça (5) prevê uma redução de US$ 876 milhões para a Agência Federal de Gerenciamento de Emergências, responsável pela resposta federal a desastres naturais. Agora, o presidente propôs ao Congresso um reforço de quase US$ 6 bilhões para os esforços de reconstrução no Texas e na Louisiana.

Trump, que havia ameaçado parar as atividades das agências federais se os parlamentares não aprovassem o financiamento para a construção do muro na fronteira com o México também deve deixar sua demanda de lado, pelo menos por agora.

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