Flórida estava certa ao se preparar para o pior
Nicholas Kamm - 11.set.2017/AFP | ||
Causa destruída em Naples, no Estado da Flórida, após passagem do furacão Irma |
Quase uma semana antes da data prevista para que o furacão Irma atingisse a Flórida, o governador Rick Scott, republicano, declarou estado de emergência em todo o Estado.
Autoridades estaduais e municipais se prepararam para a emergência, com promessas de ajuda do governo federal. Os moradores responderam aos alertas com uma das maiores evacuações já ocorridas nos Estados Unidos.
O estrago total do Irma, que continuava a representar perigo na segunda-feira ao avançar rumo ao norte na direção da Geórgia e mais além, ainda não foi calculado. Mas já está claro que as coisas teriam sido piores se não fosse pela preparação cuidadosa.
O Irma, a mais poderosa tempestade vinda do Atlântico em uma década, atingiu a Flórida no domingo depois de deixar uma trilha de destruição no Caribe.
Mais de seis milhões de residências e empresas ficaram sem energia na Flórida, o que inclui a maior parte da cidade de Miami. Imensas inundações foram reportadas em Jacksonville, e a extensão dos danos nas vulneráveis ilhas Keys era desconhecida porque muitas delas continuavam inacessíveis na segunda-feira.
Pelo menos nove mortes foram reportadas na Flórida, Geórgia e Carolina do Sul, e ao menos 38 pessoas morreram em ilhas do Caribe, e há o temor de que o total de mortes tenha sido ainda mais alto, o que só poderá ser confirmado à medida que novas informações se tornarem disponíveis.
Os governos do Reino Unido, França e Holanda, que controlam territórios do Caribe atingidos pelo Irma, sofreram críticas pelo despreparo e pela resposta lenta ao furacão histórico. "A comida toda acabou. As pessoas estão brigando na rua pelo que restou, foi o relato que um residente de St. Martin fez ao "New York Times".
Outros fatores –a força do Irma ao chegar (categoria 5) e o padrão precário das construções– ajudam a explicar a destruição sofrida pelas ilhas pesadamente atingidas.
Assim, qualquer crítica às autoridades da Flórida por levarem o furacão a sério e se prepararem para todas as contingências é equivocada. É fato que a destruição não foi tão intensa quanto se previa, mas melhor se preparar para o pior do que arriscar as vidas dos moradores e visitantes e daqueles que têm a obrigação de protegê-los. E estamos falando de uma tempestade devastadora, que acarretará um período longo de recuperação.
As estimativas estão apenas começando a chegar, mas o custo econômico –em termos de desordenamento de negócios, alta no desemprego, perdas de safras e danos a propriedades e infraestrutura –deve ser significativo; um analista estimou as perdas em cerca de US$ 100 bilhões. O que vem se somar aos US$ 190 bilhões em prejuízos para a economia causados pela tempestade Harvey.
A magnitude das perdas - o fato de que dois furacões categoria 4 tenham atingido o país em poucas semanas, depois do ano mais quente já registrado –com sorte despertará autoridades como Scott para a necessidade de previdência na preparação para futuras tempestades, em uma era de mudança no clima, e colocará a economia no caminho da desaceleração das emissões de gases causadores do efeito estufa.
É verdade que eventos climáticos únicos em geral não podem ser vinculados definitivamente à mudança no clima. Também é verdade que a mudança no clima tornará esse tipo de evento mais comum e mais severo. Como disse Tomás Regalado, o prefeito republicano de Miami, "isso claramente representa um prenúncio do que está por vir".
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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