Após derrota, social-democracia alemã precisa se reinventar
Um dia duro e amargo. Assim o socialista Martin Schulz definiu a eleição de 2017 na Alemanha. Mesmo sendo o segundo mais votado (20%), o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) obteve seu pior resultado nas urnas desde 1949.
A derrota de Schulz para Angela Merkel, líder democrata-cristã, só não teve sabor pior do que a mirrada vantagem do SPD sobre o terceiro colocado. Com mais de 12% dos votos, a Alternativa para Alemanha (AfD) coloca a extrema-direita no Parlamento pela primeira vez desde o fim do nazismo.
Michele Tantussi/AFP | ||
O líder do Partido Social-Democrata alemão, Martin Schulz, em entrevista no dia seguinte à eleição |
Na condição de presidente do SPD, Schulz anunciou que não formará coalizão com Merkel. O social-democrata promete voltar à oposição. Bom para o partido, arriscado para a estabilidade política.
É incerto que Schulz mantenha a presidência do partido. Sua capacidade de energizar a legenda também suscita dúvidas. Ausente da política doméstica por 13 anos (tempo em que atuou no Parlamento Europeu ), o socialista precisa se reconectar com os eleitores.
Mais antiga sigla do país, o SPD teve grandes nomes nos seus quadros —como Friedrich Ebert, Kurt Schumacher e Willy Brandt, para citar apenas três. Não há como contar a história do país sem passar pelo papel da Social-Democracia na construção do Estado de Bem-Estar Social e na normalização das relações externas no pós-guerra.
Nos anos 2000, o SPD se distanciou de seus valores centrais. No governo de Gerhard Schröder, o Parlamento aprovou reformas que reduziram o desemprego, mas achataram salários e geraram desigualdade social.
Europeísmo e direitos humanos, outras bandeiras da legenda, não parecem ter apelo em tempos de "brexit" e xenofobia. O SPD tem de reconquistar trabalhadores urbanos e abrir frente nas zonas rurais, onde a AfD mais cresce.
Muitos eleitores o veem como parte do "centrão" alemão. Ignorar o canto da sereia e recusar a grande coalizão governista é o primeiro passo para resgatar as raízes. O segundo é projetar novas lideranças.
A escolha de Andrea Nahles, atualmente ministra do Trabalho, para liderar os 153 assentos ganhos no Parlamento confirma essa tendência.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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