Usada por atirador de Las Vegas, peça ajuda a burlar veto a metralhadoras

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

A venda de armas automáticas foi proibida nos EUA em 1986. Hoje em dia, só é possível comprar legalmente uma arma automática se ela tiver sido produzida antes de 1986. Mas há menos de 200 mil dessas armas em circulação e elas são caras, chegando a custar US$ 20 mil (R$ 63 mil).

É possível, no entanto, "converter" uma arma semiautomática com acessórios chamados "bump stocks". Foram esses que Stephen Paddock, 64, autor do massacre de domingo (1º), usou.

Em uma arma semiautomática, dispara-se um tiro a cada vez que o gatilho é apertado. Já na automática, cada toque lança uma série de projéteis —uma metralhadora pode disparar entre 300 e 1.800 tiros em um minuto.

Pela internet, com preços que variam de US$ 90 a US$ 450, pode-se comprar o chamado "bump stock", que é autorizado pela legislação americana e permite disparar centenas de tiros por minuto, desempenho semelhante ao de algumas metralhadoras.

Ele é colocado no lugar da coronha do fuzil e permite ao atirador disparar com muito mais agilidade do que se puxasse o gatilho normalmente todas as vezes.

Uma das empresas que vendem o acessório, a Bump Fire Systems, anuncia em seu site: "Você sabia que pode similar disparos totalmente automáticos e que isso é legalizado?"

Há vídeos tutoriais no YouTube intitulados "Como usar o 'bump fire' no fuzil AR-15".

Armas semiautomáticas como o fuzil usado pelo autor do ataque podem ser compradas on-line, de um proprietário ou em uma loja, sem checagem de antecedentes criminais ou de doença mental, dependendo do Estado.

Nos últimos massacres dos EUA, foram usados armamentos do tipo, na maioria das vezes comprados legalmente.

A produção de fuzis semiautomáticos foi proibida nos EUA em 1994, mas a lei prescreveu em 2004 e, desde então, ninguém conseguiu aprovar a extensão do veto.

Críticos afirmam que os "bump stocks" permitem burlar a lei americana que proíbe a venda de metralhadoras e fuzis automáticos.

A senadora Dianne Feinstein apresentou em 2013 um projeto de lei para proibir a venda desses acessórios e voltou a pedir o veto a eles nesta terça-feira (3).

No Brasil, a venda de fuzis semiautomáticos e metralhadoras é restrita para uso militar e policial. Mas isso não significa que seja difícil obter uma arma dessas no mercado paralelo, a um custo que oscila entre R$ 40 mil e R$ 70 mil.

Em junho, a Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme) da Polícia Civil do Rio apreendeu 60 fuzis no aeroporto internacional do Galeão. Dados da Polícia Civil mostram que, no primeiro semestre deste ano, foram confiscadas 250 armas do tipo só no Rio.

"Se eu quisesse, saía de casa agora e voltava com um fuzil AR-15. Temos um país com enormes fronteiras, muita gente traz do Paraguai", diz Lucas Silveira, presidente do Instituto Defesa, partidário do direito de acesso às armas e da legítima defesa.

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