Ausência de Koike e novo partido elevam turbulência de eleição japonesa
Kim Kyung-Hoon/Reuters | ||
O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, e a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, em debate no Clube Nacional de Imprensa |
Três fatos novos embaralharam mais as cartas das eleições japonesas no primeiro dia de campanha política, nesta terça-feira (10).
O pleito já vinha movimentando as forças políticas do país por ser o primeiro em que o premiê Shinzo Abe pode de fato ser ameaçado por oposicionistas desde que assumiu o cargo, em 2012.
Abe antecipou as eleições para a Câmara Baixa (o equivalente à Câmara dos Deputados), que ocorreriam apenas no ano que vem, para o próximo dia 22, para aproveitar o momento em que o então principal partido de oposição, o Democrata, estava enfraquecido por denúncias.
A coligação do premiê -formada por seu partido, o Democrata Liberal (PLD), e o Kumeito- já detinha 68% dos assentos, mas o premiê queria ampliar seu poder.
A estratégia sofreu um primeiro baque poucas horas depois, com o anúncio da criação de um novo partido nacional, o Partido da Esperança, pela governadora de Tóquio, Yuriko Koike.
A nova agremiação atraiu dezenas de políticos e em uma semana já obtinha nas pesquisas 15% das intenções de voto, contra 24% do PLD; outros 43% dos eleitores se declaravam indecisos.
Analistas passaram a considerar viável o risco de que o premiê saia das urnas com menos deputados do que antes, o que, no limite, poderia forçá-lo a deixar o cargo.
GOVERNADORA FICA
Nesta terça (10), prazo final para a inscrição de candidatos, Yuriko Koike confirmou que não vai renunciar ao governo de Tóquio para concorrer à Câmara.
Com isso, o apoio ao PE pode cair. Enquanto ainda se especulava se ela seria candidata, pesquisa da emissora de TV NHK indicava que 47% apoiavam o partido de Koike, contra 37% de apoio a Abe. Nesta terça, os números eram 36% e 37%, respectivamente.
Para obter maioria na Casa, o PE precisaria eleger 233 representantes, mas até esta segunda (9) a agremiação tinha registrado apenas 199 candidatos. Mesmo assim, o partido da governadora pode conquistar poder na Câmara com coligações.
Koike não anunciou nesta terça quem o PE apoia para primeiro-ministro, o que abre margem para negociações.
Uma das hipóteses é que ela pode inclusive se coligar com o PLD de Abe, partido do qual já fez parte.
MAIS UM PARTIDO
A concorrência se complicou com o lançamento de um terceiro polo, o Partido Democrata Constitucional, formado por deputados liberais.
O PDC se apresenta como a única força de oposição, já que Koike é vista como politicamente muito próxima do conservador PLD de Abe.
Atenta a esse risco, a governadora já havia dados passos para se diferenciar do premiê, lançando um plano econômico batizado de "Yurinomics" e a plataforma "12 Zeros", que contempla uma das divergências entre eles: o banimento da energia nuclear.
ABE EM XEQUE
O terceiro elemento a embolar as eleições são as taxas de aprovação do governo de Abe, que caíram abaixo de sua taxa de reprovação segundo pesquisas dos grupos de mídia Kyodo e Asahi.
Em seu primeiro dia de campanha, Abe partiu para o ataque, criticando os slogans lançados por Koike e pedindo apoio para fazer frente às ameaças norte-coreanas.
O ditador do país vizinho, Kim Jong-un, já lançou dois mísseis sobre território japonês e agências de notícias têm falado em "afundar o Japão".
O programa de governo do PLD, anunciado hoje, promete investir em educação parte do aumento do imposto sobre consumo previsto para 2019 (alta que Koike promete cancelar).
O premiê também reafirma sua intenção de alterar a Constituição para dar mais autonomia às Forças Armadas -objetivo apoiado por um terço dos eleitores e reprovado por mais da metade, segundo pesquisa do Instituto Kyodo. (ANA ESTELA DE SOUSA PINTO)
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