Senado nos EUA cobra de Google e Facebook transparência em eleições
Numa escalada de medo e desconfiança da intervenção russa na política doméstica dos Estados Unidos, senadores americanos defendem que gigantes da internet, como Google e Facebook, revelem quem está comprando anúncios em suas páginas.
O esforço liderado por um republicano e dois democratas vem no rastro do lobby cada mais agressivo do Vale do Silício para manter a liberdade de operar quase alheio a regulações do governo.
Damien Meyer - 28.set.2017/AFP | ||
Símbolos de Google e Facebook, entre os de Apple e Amazon; Senado dos EUA cobra transparência |
Nas últimas semanas, essas empresas despacharam altos executivos a Washington para tentar conter a crise detonada por revelações recentes de que agentes russos compraram anúncios nessas plataformas para fomentar divisões políticas nos EUA.
Executivos do Facebook admitiram que a rede social vendeu o equivalente a cerca de R$ 320 mil em publicidade a compradores da Rússia —embora o valor pareça baixo, analistas estimam que essas mensagens possam ter sido vistas por quase 25 milhões de pessoas.
Russos compraram ainda dezenas de milhares de dólares em anúncios no Google e em sites ligados à empresa, entre eles Gmail e YouTube.
Em silêncio até o momento sobre as acusações dos americanos, o presidente russo, Vladimir Putin, deu nesta quinta (19) a primeira declaração ligada à batalha midiática entre Washington e Moscou, defendendo a liberdade de atuação do canal RT TV e do site Sputnik, ligados ao Kremlin, nos EUA.
Ele respondeu à exigência de políticos americanos de que funcionários da mídia de seu país se registrem como agentes estrangeiros ameaçando impor restrições a jornalistas de ao menos cinco organizações de mídia americanas que atuam na Rússia.
"Vamos responder à altura e com rapidez", disse Putin a jornalistas em Sochi, na Rússia. "Logo que virmos passos para a imposição de restrições, haverá resposta."
DESALINHO
Enquanto isso, a temperatura sobe nos Estados Unidos. Democratas até então mais alinhados ao Vale do Silício, que defende, entre outras causas progressistas, leis flexíveis de imigração, agora sobem o tom de suas queixas.
É um reflexo da percepção de que Hillary Clinton, a candidata do partido nas eleições presidenciais do ano passado, foi uma vítima dos russos.
Há pelo menos uma década, empresas da internet vêm resistindo com sucesso à implementação de regras mais rigorosas sobre anúncios em suas plataformas, argumentando que os espaços publicitários on-line são pequenos demais para advertências.
Na TV, no rádio e nos jornais, anúncios políticos são obrigados pela lei a especificar quem paga por eles, o que não ocorre com redes sociais e buscadores, por exemplo.
Uma das vozes contratadas pelas empresas de tecnologia para reforçar esse argumento, aliás, trabalhou na campanha fracassada de Hillary.
Mas Marc Elias, o marqueteiro, parece não estar convencendo políticos de que aplicar restrições é inviável, mesmo insistindo que os russos fariam de tudo para apoiar Donald Trump e que nenhum aviso seria eficaz.
O órgão responsável pela fiscalização de propaganda política no país, que antes definia a internet como um "meio em evolução" isento de fiscalização mais dura, também perdeu influência, e a compra de anúncios de natureza política por estrangeiros ainda é proibida nos EUA.
Esse é o ponto levantado pelos senadores Amy Klobuchar e Mark Warner, os democratas que lideram o esforço de impor restrições à publicidade em páginas de internet.
Numa nota a quatro mãos, eles afirmam que a proposta é "evitar que agentes estrangeiros influenciem eleições, garantindo que a propaganda política on-line esteja sujeita às mesmas regras de anúncios" tradicionais, classificando as leis agora em vigor como "antiquadas".
O fenômeno das "fake news", no caso, sustenta essa visão e dá mais estridência ao coro de vozes que exige um basta à liberdade quase total praticada na internet.
Na semana passada, anúncios publicados pelo Google nos sites de checagem de informações PolitiFact e Snopes acenderam mais alertas.
Em meio a artigos tentando separar verdades de mentiras, essas propagandas chamavam a atenção do leitor com notícias sensacionalistas sobre celebridades. Depois do clique, no entanto, os artigos se revelavam anúncios para cremes antirrugas.
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