Presidente catalão acusa Espanha de tentar "liquidar democracia"
Yves Herman/Reuters | ||
O presidente da Catalunha, Carles Puigdemont |
Hora após o governo espanhol anunciar seus planos de destituir a administração catalã, o presidente da região, Carles Puigdemont, discursou no fim da tarde deste sábado (21) convocando uma reunião parlamentar de emergência na segunda-feira.
O líder separatista não voltou a ameaçar, no entanto, com uma declaração formal de independência -o que poderia ter agravado a crise. O Ministério Público espanhol estuda acusá-lo de rebelião, o que pode resultar em até 30 anos de prisão.
Ele se referiu às "tentativas de liquidar nosso autogoverno e democracia". O premiê espanhol, Mariano Rajoy, havia dito que retirará Puigdemont do cargo como punição por seu desafio separatista, assim como seu vice e o resto de seu gabinete.
"Todas as propostas de diálogo tiveram a mesma resposta: silêncio e repressão", disse no discurso. "O que os catalães decidiram nas urnas, os espanhóis anulam em seus escritórios."
Puigdemont afirmou ainda que a ativação do Artigo 155 da Constituição, que prevê a intervenção de Madri no governo catalão, é o "pior ataque" à gestão da região desde os anos da ditadura de Francisco Franco (1939-1975), durante os quais houve violenta repressão do nacionalismo -e a língua catalã foi restrita no espaço público.
"O governo espanhol se proclamou, de maneira ilegítima, como representante dos catalães", disse. No fim de sua fala, Puigdemont discursou em inglês e se dirigiu à União Europeia, dizendo que a Catalunha corre risco.
ELEIÇÕES
As medidas anunciadas por Madri neste sábado, incluindo a remoção de Puigdemont, ainda precisam passar por trâmites legais e serem votadas pelo Senado, o que deve acontecer na sexta-feira (27).
É preciso ter maioria absoluta, algo já garantido pelo governo.
O premiê Rajoy também planeja convocar eleições antecipadas na Catalunha, a princípio em até seis meses.
A autonomia catalã não foi suspensa, no entanto, nem seu Parlamento foi dissolvido -apesar de que sua atividade legislativa deve ser limitada neste período.
Em protesto às medidas, dezenas de milhares de pessoas se reuniram em Barcelona, a capital catalã.
Eles foram às ruas também para criticar a detenção de dois líderes separatistas durante a semana, acusados de sublevação pelo Estado espanhol.
Esta crise, a pior desde a redemocratização da Espanha nos anos 1970, teve início no plebiscito separatista de 1º de outubro.
Cerca de 43% do eleitorado votou, com 90% deles apoiando a independência -mas Madri considera que a consulta foi ilegal e, portanto, é inválida.
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