Alemanha chega sem acordo ao último dia para formação de novo governo
Michael Kappeler/DPA/AFP | ||
A chanceler Angela Merkel chega para reunião de negociação para a formação de um novo governo |
Quase dois meses após vencer as eleições de 24 de setembro, a chanceler alemã, Angela Merkel, enfrenta nesta quinta-feira (16) um teste decisivo a seu mandato. Vence nas primeiras horas da sexta-feira o prazo para que ela dê início às negociações formais para estabelecer uma coalizão.
Sua sigla, a conservadora CDU (União Democrata-Cristã), tem conduzido conversas preliminares com os Verdes e com os liberais do FDP. Essas tratativas já duram três semanas, mas ainda não solucionaram uma série de impasses, como a política migratória.
Os três partidos devem se reunir madrugada adentro para decidir se vão seguir adiante e negociar formalmente sua aliança para o próximo governo. É possível estender esse prazo, estipulado pela própria chanceler.
Caso não cheguem a nenhuma acordo e desistam de negociar, a Alemanha poderá voltar às urnas. O temor é de que a repetição ajude a sigla ultranacionalista de direita AfD (Alternativa para a Alemanha), que em setembro conquistou 92 assentos de um total de 709.
A realização de novas eleições não é do interesse de Merkel, há 12 anos no poder. O influente diário "Bild" escreveu, por exemplo, que "o fracasso da coalizão Jamaica será seu fracasso".
A eventual aliança entre CDU, Verdes e FDP é conhecida na Alemanha como "coalizão Jamaica" porque as cores das siglas lembram a bandeira jamaicana: preto, verde, amarelo.
"A QUALQUER PREÇO"
As conversas de quinta-feira começaram com declarações pessimistas. Joachim Herrmann, aliado de Merkel, afirmou: "Não sei se poderemos resolver todas as discrepâncias". Jens Spahn, também da CDU, disse que "não haverá uma coalizão a qualquer preço".
Merkel, por sua vez, demonstrou algum otimismo. Ela disse a repórteres que "se isso funcionar, e acho que pode funcionar, pode haver um resultado positivo no fim das negociações deste dia, mas é uma tarefa difícil."
O governo anterior de Merkel era formado pelo que é chamado de "grande coalizão", uma aliança entre a CDU e seu rival mais tradicional, os sociais-democratas da SPD. A SPD, no entanto, afirmou logo após as eleições de 24 de setembro que preferia voltar à oposição e, ali, fortalecer sua política.
Caso a coalizão Jamaica seja confirmada entre os líderes, ainda precisará do aval dos membros dos partidos —os Verdes, por exemplo, examinariam o acordo em sua conferência em 25 de novembro.
Esse partido, em especial, tem uma posição delicada, já que concessões sobre imigração e política ambiental tendem a ser vistos como uma derrota por por parte de sua base.
A migração é um dos temas mais complicados nas negociações. Os Verdes querem facilitar a vinda da família de refugiados à Alemanha, por exemplo, algo que CDU e FDP se recusam a fazer.
Estima-se que 300 mil pessoas poderiam vir ao país para se reunir com seus familiares, no plano dos Verdes —mas Merkel já sofreu um considerável dano político por ter permitido a entrada de quase um milhão de pessoas em 2015 com sua política de "portas abertas".
Outra questão polêmica é o clima: os Verdes querem fechar usinas de maneira agressiva e reduzir as emissões de carbono em 120 milhões de toneladas métricas. CDU e FDP, por outro lado, miram no corte das emissões em apenas 66 milhões de toneladas métricas.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis