Desaceleração da economia e aumento da desigualdade frustram chilenos

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO

A desaceleração da economia e o aumento da desigualdade são apontados nas pesquisas como as principais frustrações dos chilenos com o governo de Michelle Bachelet, que chega aos últimos meses de sua segunda gestão com 32% de aprovação (segundo o instituto Cadem).

O primeiro item incomoda a oposição, agora favorita ao pleito. A promessa de retomada do crescimento e de maior abertura do país para investimentos estrangeiros tem sido a bandeira do líder da corrida eleitoral, o ex-presidente de centro-direita Sebastián Piñera (com 45% das intenções de voto).

Em seu período de governo (2010-2014), o crescimento do PIB esteve entre 4% e 5%. Neste 2017, a projeção é que fique em apenas 1,4%.

Entre os países que fazem parte da Aliança do Pacífico (com Peru, Colômbia e México), o Chile foi o de pior desempenho macroeconômico nos últimos anos, apesar de manter sob controle a inflação, em 3,8%.

Bachelet defende-se dessa crítica ao apontar para fatores externos, como a queda do preço do cobre (que representa quase a metade das exportações chilenas) e a desaceleração de toda a região.

Já o segundo item reflete a desilusão do próprio eleitorado de Bachelet. Durante a campanha eleitoral, a atual mandatária prometeu diminuir a desigualdade no país e melhorar a distribuição da renda.

Hoje, o Chile é o país mais desigual entre os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e o sétimo na América Latina. Segundo o estudo "Desiguales", realizado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), 1% da população concentra 33% da riqueza —e, ainda mais impressionante, 0,1% capta 19,5% do que o país gera.

Em entrevista à Folha, em Santiago, o coordenador da pesquisa, o economista Osvaldo Larrañaga, da Universidade da Pensilvânia, disse que "a desigualdade é uma marca da sociedade chilena desde os tempos coloniais".

Segundo o estudioso, ao longo da história, "sempre houve uma classe alta que concentrou parte significativa da riqueza".

"No século 20", prossegue ele, "viveram-se mudanças com o aumento da classe média e políticas de partidos de centro e esquerda que minimizaram essa desigualdade. Porém, esse processo foi alterado pelas reformas liberais realizadas pela ditadura, que transformaram a economia, o papel do Estado e as relações de trabalho".

Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

REDUÇÃO DA POBREZA

Segundo o estudo, tais fatores seriam os responsáveis pelo retorno a um quadro de grande desigualdade social.

Ainda assim, desde os anos 1990 (fim da ditadura), as políticas sociais da Concertação conseguiram reduzir a pobreza de 45% para os atuais 11,7%.

A segunda gestão Bachelet também realizou uma reforma trabalhista que deu mais espaço de negociação para os sindicatos —um fator que, segundo Larrañaga, "vem ajudando a diminuir a desigualdade"—, além de tentar implementar uma reforma tributária com vistas a aumentar em três pontos do PIB a arrecadação, adicional que seria revertido para gastos sociais.

Com a verba a mais em caixa, a intenção da mandatária não era apenas atacar a desigualdade mas também transformar a Previdência, que hoje é privada, em um misto de sistema em que Estado e cidadão contribuíssem.

Considerando-se que restam à presidente poucos meses no cargo (ela passa a faixa em março), é improvável que ela consiga aprovar na íntegra todas essas reformas.

Enquanto o candidato de centro-esquerda, Alejandro Guillier, apoia tais políticas, às quais pretende dar continuidade caso seja eleito, o favorito Piñera vai em outra direção.

Sua intenção é enxugar ainda mais o Estado, diminuir gastos sociais e deixar o sistema de aposentadoria como está hoje.

Piñera aposta que o aumento da cotação do cobre em curso fará com que o país retome o crescimento (já para 3% em 2018, como vem dizendo em seus discursos de campanha) e se torne mais atrativo para investidores estrangeiros.

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