Crise no Zimbábue expõe papel dúbio da China no continente africano

CHARLES CLOVER
EMILY FENG
DAVID PILLING
DO "FINANCIAL TIMES"

Quando o dirigente chinês, Xi Jinping, chegou a Harare para uma visita de Estado dois anos atrás, desceu do avião e trocou um aperto de mãos que durou minutos com Robert Mugabe, em um gesto caloroso que ecoou em toda a África.

Pequim manteve seu apoio ao ditador do Zimbábue desde que o partido Zanu-PF pôs fim ao domínio da minoria branca em 1980, e ao longo de todo o período de sanções iniciado em 2002, quando o regime organizou a tomada violenta de terras que eram propriedade de brancos.

"[Xi] claramente tinha um relacionamento pessoal, e não apenas político e militar, com Mugabe", disse Hannah Ryder, fundadora da consultoria Development Reimagined.

Agora o ditador está em prisão domiciliar em Harare, e o papel da China na África volta volta a ganhar destaque. O general Constantino Chiwenga, comandante das forças de defesa do Zimbábue e arquiteto da tomada de poder pelos militares na semana passada, esteve em Pequim dias antes de voltar para casa e ordenar que os soldados ocupassem as ruas da capital zimbabuana.

Notícias sobre a viagem do general alimentaram reportagens de que a China havia sido avisada com antecedência sobre a operação. Pequim descartou zangadamente as especulações, esta semana, afirmando que eram prova das "más intenções da mídia ocidental", de "promover o afastamento" entre a China e a África.

Luke Patey, pesquisador sênior do Instituto Dinamarquês de Estudos Internacionais, disse que, até o momento, existem poucas indicações de que Pequim tenha influenciado diretamente a ação, e que "não devemos exagerar o papel concreto da China".

"Ao mesmo tempo, Pequim não atrapalhou", ele acrescentou, dando a entender que o ditador, cada vez mais errático aos 93 anos, pode ter passado a ser visto como problema. "Mugabe claramente perdeu o favor dos chineses".

Hosni Mubarak - Egito (1981-2011)
Era vice do presidente Anwar Sadat, assassinado em 1981. Assumiu o poder e implementou uma ditadura militar marcada pela corrupção e pela repressão aos opositores. Foi forçado a renunciar em 2011, em meio aos protestos da Primavera Árabe que tomaram o Cairo

Idi Amin - Uganda (1971-1979)
Assumiu após um golpe militar e liderou a mais sangrenta ditadura do continente. Estima-se que os mortos por seu regime cheguem a 500 mil. Fugiu do país durante a guerra com a Tanzânia, buscou refúgio na Líbia e depois na Arábia Saudita, onde morreu em 2003

Hissène Habré - Chade (1982-1990)
Depôs o recém-eleito presidente Oueddei em 1982 e liderou um regime acusado de matar 40 mil opositores e torturar 200 mil pessoas em oito anos. Foi deposto pelo seu ex-comandante das Forças Armadas, Idriss Déby, que governa o Chade até hoje

Crédito: RIA Novosti
O ex-ditador da Guiné Equatorial, Francisco Macías Nguema

Francisco Macías Nguema - Guiné Equatorial (1968-1979)
Primeiro presidente do país, executou membros da própria família, ordenou a morte de vilarejos inteiros e proibiu que os cidadãos deixassem o país. Foi deposto pelo próprio sobrinho, Teodoro Obiang Nguema, que condenou o tio ao fuzilamento por genocídio

Crédito: Issouf Sanogo/AFP
O ex-ditador nigeriano Sani Abacha durante fórum econômico em Abuja

Sani Abacha - Nigéria (1993-1998)
Chegou ao poder depois que a eleição de 1993 foi anulada. Derrubou a inflação e aumentou as reservas do país, mas violou direitos humanos e aprisionou grande parte dos opositores. Morreu em 1998 no palácio presidencial em circunstâncias não esclarecidas

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