Pela 1ª vez, Reino Unido fica sem juiz na Corte Internacional de Justiça
Pela primeira vez desde a criação da Corte Internacional de Justiça, em 1946, o Reino Unido não terá um juiz britânico na composição do tribunal. Christopher Greenwood, que era juiz na Corte desde 2009, não conseguiu a maioria dos votos dos membros da Assembleia-Geral, embora tenha sido aprovado pelo Conselho de Segurança.
Também será a primeira vez em que um membro permanente do Conselho de Segurança ficará de fora da composição da Corte, com sede em Haia, na Holanda.
Jewel Sawad - 13.nov.2017/AFP | ||
Membros do Conselho de Segurança votam nos novos integrantes da Corte Internacional de Justiça |
Apesar de, uma vez eleitos, os juízes não atuarem como representantes de seus países, ter um nacional no painel de 15 juízes é um sinal de influência diplomática.
O episódio foi interpretado como um sinal de uma nova fase nas relações internacionais, na qual o Reino Unido vem progressivamente perdendo relevância.
Matthew Rycrof, embaixador do Reino Unido na ONU, comunicou à Assembleia Geral e ao Conselho de Segurança a decisão de retirar a candidatura de Greenwood no último dia 20 de novembro.
O candidato britânico disputou a vaga com o indiano Dalveer Bhandari, que também tentava a reeleição.
A decisão foi tomada após a realização de seis rodadas de votação, que acabaram com o mesmo resultado: Greenwood aprovado no Conselho de Segurança e Bhandari, na Assembleia Geral.
As normas que regem a escolha dos juízes não preveeem um limite de rodadas para que um candidato obtenha a dupla aprovação. Por essa razão, a retirada de uma das candidaturas acaba sendo a única alternativa.
outra derrota
Em junho deste ano, o Reino Unido sofreu outra derrota na Assembleia-Geral. Uma discussão sobre uma das últimas colônias britânicas, as ilhas Chagos, no oceano Índico, se encerrou com a adoção de uma resolução de iniciativa das Ilhas Maurício que contrariava os interesses britânicos na região. O Reino Unido obteve apenas 15 votos a favor de sua proposição.
O resultado negativo foi consequência da abstenção de 63 países, entre eles 22 da União Europeia, incluindo Alemanha, França e Itália.
A decisão de deixar a União Europeia, o chamado "brexit", teve como consequência a perda do poder de barganha coletivo do qual o bloco goza, assim como a do apoio de seus membros.
De um dos principais formadores da política externa europeia, o Reino Unido passou a contar só com o próprio peso —o que tem dificultado a aprovação de sua agenda em fóruns multilaterais.
Um segundo possível fator para a "impopularidade" britânica entre os membros das Nações Unidas pode ser seu atual secretário das Relações Exteriores, Boris Johnson.
Ex-prefeito de Londres, Johnson foi um dos principais líderes da campanha a favor do "brexit" e tem uma trajetória de declarações polêmicas. Sua nomeação em julho deste ano foi recebida com desânimo.
No ano passado, depois que o ex-presidente americano Barack Obama apoiou a permanência do Reino Unido na UE, Johnson sugeriu que ele teria uma "aversão ancestral ao Império Britânico" devido às suas raízes quenianas —o pai de Obama nasceu no Quênia, ex-colônia britânica que conquistou a independência nos anos 1960.
Johnson também já acusou a União Europeia de seguir o mesmo caminho que Adolf Hitler e Napoleão Bonaparte ao tentar criar um "superestado" no continente.
Durante a campanha pela saída da UE, o político conservador foi acusado de enganar eleitores ao afirmar que o Reino Unido pagava altas quantias ao bloco europeu —o que desconsiderava as contribuições feitas pela UE ao Reino Unido, na forma de investimentos e repasses.
ELEIÇÕES
A nomeação para o cargo de juiz da Corte Internacional de Justiça depende da aprovação pela maioria dos membros da Assembleia-Geral, o que corresponde a votos favoráveis de 97 países. O candidato também deve ser aprovado pelo Conselho de Segurança. Os eleitos cumprem mandato de nove anos.
Com cinco vagas, a votação deste ano contou com seis candidatos: cinco que tentavam a reeleição e um que buscava o primeiro mandato.
Após quatro rodadas, os atuais juízes Ronny Abraham (França) e Abdulqawi Ahmed Yusuf (Somália) foram reeleitos. O brasileiro Antônio Augusto Cançado Trindade também foi reeleito. Nawaf Salam, embaixador do Líbano na ONU, foi eleito para o primeiro mandato.
A quinta vaga foi disputada por Dalveer Bhandari, da Índia, na Corte desde 2012, e Christopher Greenwood, do Reino Unido, que começou seu mandato em 2009.
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