Catalunha volta às urnas dois meses após governo ser destituído
Emilio Morenatti/Associated Press | ||
Ativistas pró-Espanha protestam contra declaração de independência da Catalunha, em outubro |
A Catalunha, região da Espanha que se declarou independente em 27 de outubro e horas depois teve seu governo destituído, com posterior intervenção do governo central espanhol, volta às urnas nesta quinta-feira (21).
Cerca de 5,5 milhões de eleitores poderão decidir a composição do novo Parlamento e, consequentemente, do governo regional.
Na sexta-feira (15), último dia permitido para a publicação de pesquisas de opinião, o Cidadãos, liderado pela andaluza Inés Arrimadas, apareceu como a força mais votada em ao menos cinco sondagens, ultrapassando a ERC (Esquerda Republicana), até então líder. O cenário, no entanto, é de ingovernabilidade.
As eleições na Catalunha estão polarizadas majoritariamente entre dois blocos —separatistas e constitucionalistas. Nenhum deles, segundo pesquisas, teria maioria absoluta no Parlamento, o que só seria possível com a obtenção de ao menos 68 das 135 cadeiras.
Para Josep Joan Moreso, catedrático de filosofia do direito da Universidade Pompeu Fabra, não é só a campanha que está dividida mas sim toda a sociedade catalã —e isso há tempos.
"Os últimos anos polarizaram a Catalunha. O catalanismo histórico era um movimento que tentava abraçar todo o país, o slogan da transição e da esquerda democrática era 'un sol poble' [um só povo]. Ao introduzir a secessão na agenda, a sociedade está rompida. Uma ala quer separação, a outra, não."
Um dos blocos da corrida eleitoral reedita a coalizão que governou a Catalunha a partir de 2016 e organizou o referendo ilegal de 1º de outubro, culminando na efêmera independência. É constituído por ERC (esquerda), Juntos pela Catalunha (nova versão da Convergência, tradicional direita catalã) e CUP (extrema esquerda).
Apesar de ter se apresentado por candidaturas separadas, a expectativa é que voltem a se unir, caso obtenham maioria. Entretanto, conquistariam só 63 cadeiras, segundo a pesquisa Metroscopia divulgada na sexta (15).
O segundo bloco não tem um discurso de pacto a qualquer custo para manter a via constitucionalista. É formado por Cidadãos (partido de ideologia quase mais à direita que o Partido Popular, do premiê Mariano Rajoy), PP (tradicional direita espanhola) e PSC (socialistas). Teriam de 60 a 62 assentos.
Editoria de arte | ||
O fiel da balança, pelo que indicam as sondagens, seria a Catalunha em Comum, esquerda não independentista, porém favorável a um referendo negociado, e atualmente no poder em Barcelona.
A Metroscopia estima que esse bloco amealhe 11 cadeiras –quantia suficiente para definir uma maioria, tanto de um lado como de outro.
Enquanto o Cidadãos sinaliza que formaria governo com todos os que quiserem alinhar a Catalunha de vez à Espanha e "voltar à normalidade'', o PSC avisa que não é bem assim. PP e Catalunha em Comum não compartilhariam o mesmo governo em nenhuma hipótese, segundo ambos.
Ante tal cenário, Moreso afirma que os Comuns devem tentar deslocar a questão de soberania versus constitucionalismo para a tradicional direita versus esquerda.
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