Congresso dos EUA pede investigação de autor de dossiê contra Trump

Crédito: Pablo Martinez Monsivais - 14.nov.2017/Associated Press Glenn Simpson, ex-repórter investigativo e fundador da Fusion GPS
Glenn Simpson, ex-repórter investigativo e fundador da Fusion GPS

ESTELITA HASS CARAZZAI
DE WASHINGTON

No primeiro relatório conclusivo de um comitê do Congresso americano que apura a influência russa nas eleições de 2016, senadores sugeriram ao Departamento de Justiça dos EUA que investigue o ex-espião britânico Christopher Steele –autor de um famigerado dossiê contra o presidente Donald Trump, pago por democratas.

O resultado aumenta o tensionamento partidário em torno do tema: enquanto democratas pedem a responsabilização de Trump e sua equipe por suposto conluio com os russos, os republicanos ressaltam o papel da campanha de Hillary Clinton na polêmica.

Divulgado em janeiro do ano passado, às vésperas da posse de Donald Trump, o "dossiê Steele" continha revelações sobre encontros da campanha do republicano com informantes russos, mas também informações falsas ou jamais confirmadas, como farras com prostitutas e negócios feitos à base de propinas. A pesquisa foi paga por membros da campanha de Hillary Clinton e do diretório nacional do partido democrata.

Sua revelação foi bombástica e amplamente divulgada na imprensa, e acabou servindo como base para o início das investigações do Congresso. O FBI também apura o caso, sob comando do procurador especial Robert Mueller.

O pedido de investigação contra Steele, chamado na lei americana de "criminal referral", foi apresentado pelos senadores republicanos Charles Grassley e Lindsey Graham, que estão à frente do comitê judiciário do Congresso, em memorando enviado nesta quinta (4).

Eles afirmam ao Departamento de Justiça que o antigo espião mentiu a autoridades federais sobre seus contatos com jornalistas americanos, o que constitui crime, de acordo com a lei americana.

Líderes republicanos têm batido na tecla de que o dossiê, pago por democratas e cuja veracidade se mostrou duvidosa, motivou as investigações do FBI, o que coloca em dúvida a parcialidade do inquérito.

Graham defendeu recentemente, em entrevista à Fox News, que o FBI deveria abrir um inquérito específico sobre a montagem e a compra do dossiê e afirmou que o Departamento de Justiça usou as informações para justificar investigações contra a campanha republicana.

Já políticos democratas, que comandam o Comitê de Inteligência do Congresso, defendem a investigação do FBI e têm destacado a ação de trolls russos na internet para denegrir a campanha de Hillary Clinton e fomentar apoio a Trump.

O departamento ainda não se manifestou sobre o pedido dos senadores. Pela lei, o órgão não é obrigado a dar continuidade à sugestão de investigar Steele.

O advogado Joshua Levy, defensor do grupo Fusion GPS, que contratou Steele para fazer o dossiê, criticou o fato de o comitê do Congresso responsabilizar "aquele que reportou [o problema] às autoridades em primeiro lugar".

Para ele, isso levanta dúvidas sobre se a intenção dos republicanos seria apenas "desacreditar fontes governamentais", tais como Steele.

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